As palavras,
se nos foram podadas,
azar a quem as podou,
porque a poda só as fará florescer com maior vigor.
As palavras,
se foram cortadas pela raiz,
azar a quem as cortou,
porque assim entrarão para a história.
(Lara J Lazo)
Era um dia normal de aula... Saí apressada da sala, com um monte de atividades extra-classe para realizar. Inesperadamente, como uma fruta que despenca do pé na sua cabeça, um indivíduo conhecido parou-me no corredor. Não se tratava de um aluno. Com ar de soberba, o “sumo sacerdote do saber” passou a me cravar com perguntas idiotas. Com certeza não tinha nada de bom para fazer. As mais idiotas foram: - Por que você está disseminando Comunismo na faculdade? Qual a sua verdadeira intenção aqui?” Você faz parte de algum grupo mal intencionado infiltrado na universidade?
Até aí, não fazia idéia do que o indivíduo estava me acusando. Então, surpresa, perguntei: - O que foi que fiz?
Ele, revoltado, mas com um ar contido de superioridade, respondeu-me com outras interrogações: - Posso saber por quê você está traduzindo literatura russa para a revista bilíngüe de tradução, Modelo 19? Qual a sua verdadeira intenção nessa universidade? É fazer baderna comunista? - A minha surpresa foi então ainda maior! O que aquele maluco estava dizendo?! Eu não sabia se chorava, se ria até cair ou se escrevia uma crônica sobre as pérolas da democracia universitária. Ainda, quase perdi a noção temporal: “Será que estava na época da ditadura?” Perguntas tão estultas assombram e estonteiam!
Bem, só pude responder-lhe com outras questões: - Você sabe ler? Conhece a poesia de Anna Akhmátova? Sabe do que está falando? Você, pelo visto, não sabe ler coisa nehuma.
O indivíduo, com ar imbatível - e ridículo- , disse que não queria ver mais aquele tipo de “coisa” na revista de tradução de literatura e eu, claro, respondi que traduziria o que quisesse e que não seria ele e nem ninguém que iria me atrapalhar com tamanhas besteiras.
Só havia publicado a tradução de um poema de Anna Akhmátova, mais nada. Não havia intenção política, ideológica, ou qualquer outra! Era apenas a tradução de um excelente poema russo. E, onde estava a democracia? Que direito tinha aquele indivíduo tolo e soberbo de me esgotar a paciência com tamanho disparate? Ele era tão estulto, que não conseguiu nem compreender que a poetisa criticava o comunismo - seus poemas foram proibidos na Rússia comunista, se eu não me engano, de 1925 a 1952..
Esse tipo de visão não poderia jamais persistir, principalmente dentro de uma universidade. Eu não fazia idéia de que traduzir literatura russa ainda fosse sinônimo de disseminação comunista. Cretinos os que assim vêem as coisas! Retrógrados e ridículos!
Claro que não parei com as traduções e a revista ganhou outra poesia de Akhmátova!
Os tolos que se calem ou, pelo menos, não falem besteiras como essas!
(Texto: Lara J. Lazo)
A Barca transpõe as margens da lagoa... A imensidão escorre nas gotas brilhantes de sol.
A Barca corre, patina, desliza na solidão cristalina. Cristalina, nos Olhos-Que-Tudo-Vêem, templo do olho já morreu, jazigo de ouro nasce e permanece. Osíris, flor molecular, abre os braços e carrega a Barca nas Brumas de Avalon. Aquela múmia, à beira da lagoa, toma o posto de Ishtar, a deusa estrela, que some na ilusão solar. “Devolva as oferendas, deusa, que seu povo já morreu!” O Templo do Olho fechou as pálpebras aos brilhos de Amon e Aton. Ilusão atômica, pó-de-estrelas. A Barca corre dos papões de luz: buracos negros, trançados entre os átomos sinfônicos. Devastada a tradição, morrem as gigantes do deserto. Túmulos de história, não de homens. Mausoléus genéticos do mundo.
Gandhi é um sonho inatingível. A Guerra, a personalidade ilógica do homem.
Maiakovsky revoluciona! Akhmátova grita! Fernando Pessoa delira sabedoria... A Barca transpõe limites irreconhecíveis. Jackson Pollock dança Duncan em sua arte e o índio Dom Juan tem mais vida do que os vivos.
Elvis Presley e George Balanchine escandalizam os tolos.
A Besta segura a tocha.
E a Barca desliza...
Imita a eternidade em versos irrecuperáveis.
O Homem se virtualiza , não com a virtude, mas com a internet.
A natureza agoniza. O homem emburrece cada vez mais .
O Templo dos Deuses já morreu...
O Templo dos Homens está morrendo...
Pergunto: O que é a Barca?
Tempo.Pergunto: Quem está na Barca?
É preciso ter karma!
A gente vê que há gente preocupada com a vida alheia, em determinar os pecadores e os escolhidos do Divino...
Mas, não faz mal, não!
Foi no mercadinho, não foi? Levou uns trocados e comprou... uma jaca?!
Eu sei como é... Saiu caro, né?!
Karma! Não se desespere!
Comeu a jaca e a coisa esparramou e ficou entalada na garganta?
Karma, que ela desce... Bate duro no estômago e deixa a cuca meio tonta, mas é mole...
A jaca dura muito tempo e vai entalando, entalando, comprimindo a mente e melecando a alma. Em seguida, fica muito mole mesmo.
Efeitos colaterais de jaca não são fáceis, mas para tudo há cura! O Olho da noite tudo vê; o Olho do dia tudo revela.
Liga-se no Dharma e faça reza brava, que de pouquinho a jaca vai minguando.
Ação e reação, é assim mesmo!
A vida é música... Alegria... Vamos cantar...:
Nessa Jaca tem bicheira,
Não Bixa ni mim, não bixa ni mim, não bixa ni mim.
Nessa Jaca tem bicheira,
Esqueci di mim, esqueci di mim.
DESJACA (ou, se preferir: DESJAQUE) a sua vida e acorda!
Sorria!!!!!!!!!!!
DESJACA TUDO!!!!