domingo, 23 de dezembro de 2007

O murmúrio das calcinhas




Foi como tinha de ser. Tempo de paixão, tempo de maturação, tempo de infernização , tempo de revertério e tempo de transubstanciação. Pelo meio desses intermináveis ãos, todas as filigranas que entopem de dinheiro os bolsos dos analistas . Mas a gente nunca fez análise. A gente fazia diálise, porque nossos rins, depositários da energia vital, o prana cósmico, viviam dando tilt de tanto que a gente discutia. Discutia sobre o quê? As cretinices homéricas de todo sempre amém: religião, política, raça e família. Uma coisarada desproporcional ao tamanho de nossa mente, que só descansava quando nos voltávamos para as miticôndrias. Foi muito lenha queimada numa auto-combustão. Deu no que deu. Alguém apertou o pause. Péra aí, vamos repaginar, upgrade nas veias, pra até um dia, até talvez, até quem sabe, cruzarmos de novo. “Eu não sei em qual rua minha vida vai encontrar a sua”... once more.
Sobrou o murmúrio das calcinhas. “Por onde anda ele?” “ Cadê aquela mãozona que me maltratava?” “ Onde foi parar aquela voz me pedindo pra sumir?”
Sempre sobra encanto em algum canto. Talvez dentro de uma gaveta, insuspeita, matéria aparentemente inerte. Os físicos que se deleitem: dentre os multiversos, podem haver versos, ainda que tudo tenha se decomposto, mercúrio estilhaçado no chão... sempre haverá uma peça íntima tentando reunir os fragmentos, ingênua, bobinha. Ah...se a vida fosse apenas uma calcinha...


Maria Fernanda

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