quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

À CENSURA, AOS INSENSATOS, OGROS E CIA.


As palavras,

se nos foram podadas,

azar a quem as podou,

porque a poda só as fará florescer com maior vigor.

As palavras,

se foram cortadas pela raiz,

azar a quem as cortou,

porque assim entrarão para a história.

(Lara J Lazo)

FATO VERÍDICO E RIDÍCULO: UMA PÉROLA UNIVERSITÁRIA PARA RIR OU CHORAR.



Era um dia normal de aula... Saí apressada da sala, com um monte de atividades extra-classe para realizar. Inesperadamente, como uma fruta que despenca do pé na sua cabeça, um indivíduo conhecido parou-me no corredor. Não se tratava de um aluno. Com ar de soberba, o “sumo sacerdote do saber” passou a me cravar com perguntas idiotas. Com certeza não tinha nada de bom para fazer. As mais idiotas foram: - Por que você está disseminando Comunismo na faculdade? Qual a sua verdadeira intenção aqui?” Você faz parte de algum grupo mal intencionado infiltrado na universidade?

Até aí, não fazia idéia do que o indivíduo estava me acusando. Então, surpresa, perguntei: - O que foi que fiz?

Ele, revoltado, mas com um ar contido de superioridade, respondeu-me com outras interrogações: - Posso saber por quê você está traduzindo literatura russa para a revista bilíngüe de tradução, Modelo 19? Qual a sua verdadeira intenção nessa universidade? É fazer baderna comunista? - A minha surpresa foi então ainda maior! O que aquele maluco estava dizendo?! Eu não sabia se chorava, se ria até cair ou se escrevia uma crônica sobre as pérolas da democracia universitária. Ainda, quase perdi a noção temporal: “Será que estava na época da ditadura?” Perguntas tão estultas assombram e estonteiam!

Bem, só pude responder-lhe com outras questões: - Você sabe ler? Conhece a poesia de Anna Akhmátova? Sabe do que está falando? Você, pelo visto, não sabe ler coisa nehuma.

O indivíduo, com ar imbatível - e ridículo- , disse que não queria ver mais aquele tipo de “coisa” na revista de tradução de literatura e eu, claro, respondi que traduziria o que quisesse e que não seria ele e nem ninguém que iria me atrapalhar com tamanhas besteiras.

Só havia publicado a tradução de um poema de Anna Akhmátova, mais nada. Não havia intenção política, ideológica, ou qualquer outra! Era apenas a tradução de um excelente poema russo. E, onde estava a democracia? Que direito tinha aquele indivíduo tolo e soberbo de me esgotar a paciência com tamanho disparate? Ele era tão estulto, que não conseguiu nem compreender que a poetisa criticava o comunismo - seus poemas foram proibidos na Rússia comunista, se eu não me engano, de 1925 a 1952..

Esse tipo de visão não poderia jamais persistir, principalmente dentro de uma universidade. Eu não fazia idéia de que traduzir literatura russa ainda fosse sinônimo de disseminação comunista. Cretinos os que assim vêem as coisas! Retrógrados e ridículos!

Claro que não parei com as traduções e a revista ganhou outra poesia de Akhmátova!

Os tolos que se calem ou, pelo menos, não falem besteiras como essas!

(Texto: Lara J. Lazo)

(Foto: Anna Akhmátova /Aнна Ахмaтова )


domingo, 23 de dezembro de 2007

O murmúrio das calcinhas




Foi como tinha de ser. Tempo de paixão, tempo de maturação, tempo de infernização , tempo de revertério e tempo de transubstanciação. Pelo meio desses intermináveis ãos, todas as filigranas que entopem de dinheiro os bolsos dos analistas . Mas a gente nunca fez análise. A gente fazia diálise, porque nossos rins, depositários da energia vital, o prana cósmico, viviam dando tilt de tanto que a gente discutia. Discutia sobre o quê? As cretinices homéricas de todo sempre amém: religião, política, raça e família. Uma coisarada desproporcional ao tamanho de nossa mente, que só descansava quando nos voltávamos para as miticôndrias. Foi muito lenha queimada numa auto-combustão. Deu no que deu. Alguém apertou o pause. Péra aí, vamos repaginar, upgrade nas veias, pra até um dia, até talvez, até quem sabe, cruzarmos de novo. “Eu não sei em qual rua minha vida vai encontrar a sua”... once more.
Sobrou o murmúrio das calcinhas. “Por onde anda ele?” “ Cadê aquela mãozona que me maltratava?” “ Onde foi parar aquela voz me pedindo pra sumir?”
Sempre sobra encanto em algum canto. Talvez dentro de uma gaveta, insuspeita, matéria aparentemente inerte. Os físicos que se deleitem: dentre os multiversos, podem haver versos, ainda que tudo tenha se decomposto, mercúrio estilhaçado no chão... sempre haverá uma peça íntima tentando reunir os fragmentos, ingênua, bobinha. Ah...se a vida fosse apenas uma calcinha...


Maria Fernanda

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A FACE DE UM DEUS QUALQUER E O FUNDO DA CAVERNA




Quase tudo são sombras em Ogrolândia.

Saio para dar uma volta, parando aqui e acolá para recolher impressões. Esbarram em mim seres doentes do corpo, do espírito, do intelecto. Há um único verbo impresso no código milenar da língua: RECLAMAR. Reclama-se das mazelas físicas, das depressões, de filhos, maridos amigos, políticas, dos outros. E nas faces, - aquelas que seriam a imagem e semelhança desse deus judeu da guerra que a bíblia vende, - um ar sinistro de rancor e desilusão. Deus deve ser pessimista, revanchista e feio. E também reclama-se dele. Cobra-se. Acusa-se. Gente acostumada a freqüentar templos e que nada aprende, nada percebe do essencial da existência.
As pessoas movem-se na escuridão, como se vivessem no fundo da caverna. O único ruído vem do roçar das asas dos morcegos. O breu assume inúmeras formas: pode-se encontrar amigos de infância empinando o nariz, ou por acharem-se importantérrimos em suas funções aldeãs, ou por terem ficado amigos do Ogro Mór e seu séqüito. Pode-se receber uma resposta seca ao telefone ao se pedir uma informação, como se a Ogra- Li do outro lado pudesse vislumbrar o riso que provoca com seu estilo mastodonte e sem educação. O reino de Ogrolândia , está em metamorfose.

Há explicaçãoes pra isso?
Of course, dears! (Claro que sim). Orolândia jaz circundada por montes. Geograficamente, portanto, está na categoria dos vales. Já dizia um sábio: a montanha separa. O reino vive, pois, à parte do mundo. Como um Shan-gri-lá às avessas. Shan-gri-lá, porém, tinha uma vasta biblioteca, e seus moradores sabiam deleitar-se com a essência do espírito humano e suas criações. Entupiam os olhos de belezas e a mente de preciosidades. E o seu viver era uma elegância só. O requinte da existência profícua e abundante.
Ogrolândia faz o caminho inverso: a balbúrdia pirotécnica freqüente dos rojões, parece querer anunciar aos quatro ventos: aqui falta cultura, falta leitura, faltam discussões brilhantes, idéias reconfortantes, espaços de crescimento interior...mas temos baldes de crianças de recuperação na escola(catastrófico), temos pão cascudo, circo armado , galpão de recreação e outras cositas más, e cultos, é claro, pra todos os gostos, de todos os sabores. É claro que o perfil de Ogrolândia é perfeito para as grandes reflexões religiosas. Mais que perfeito.

Saí para dar uma volta. E voltei matutando. A percepção do alto do castelo, de dentro do mosteiro, se confirma quando se sai à rua. Mas quando a atmosfera está densa demais, há que se esperar o temporal. Quem sabe, depois da terra arrasada, da chuva que lava, do afogamento, sementes de mostarda brotem...na caverna de um deus sem face.


Maria Fernanda

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007


“Aconteceu um prodígio durante a minha temporada escolar; e aconteceu tão repentinamente que ainda considero tal hora como uma hora de revelação. Foi num bonito dia de amena primavera, quando o ar estava repleto de cantos de pássaros e as cegonhas recompunham seus belos ninhos nos telhados dos casebres de barro. As águas haviam descido e novos rebentos verdes emergiam do chão. Em todos os jardins que tinham recebido sementes plantas brotavam. Era um dia que convidava à aventura, e era impossível permanecermos sentados quietos na velha varanda raquítica de Oneh onde os tijolos se desmantelavam ao menor contato. Eu estava riscando um destes símbolos perpétuos – letras a serem cortadas em pedra e traçando ao lado deles os sinais abreviados usados para serem escritos em cima de papel – quando de repente certa palavra esquecida de Oneh, determinado fulgor estranho dentro de mim, falou e deu vida àqueles caracteres. Os desenhos se tornaram uma palavra, a palavra uma sílaba e a sílaba uma letra. Quando juntei desenhos a desenhos novas palavras irromperam – palavras vivas, inteiramente distintas dos símbolos. Qualquer rústico pode compreender um desenho; mais dois juntos só têm sentido para um literato. Creio que quem quer que haja aprendido a escrever e a ler sabe que é que estou querendo dizer. Para mim tal experiência se tornou mais fascinante do que arrebatar uma romã o cesto de um vendedor de frutas; mais doce to que uma tâmara seca; tão deliciosa como para o sedento um bom gole d água.”

Mika Waltari em O Egípcio

A BARCA


A Barca transpõe as margens da lagoa... A imensidão escorre nas gotas brilhantes de sol.

A Barca corre, patina, desliza na solidão cristalina. Cristalina, nos Olhos-Que-Tudo-Vêem, templo do olho já morreu, jazigo de ouro nasce e permanece. Osíris, flor molecular, abre os braços e carrega a Barca nas Brumas de Avalon. Aquela múmia, à beira da lagoa, toma o posto de Ishtar, a deusa estrela, que some na ilusão solar. “Devolva as oferendas, deusa, que seu povo já morreu!” O Templo do Olho fechou as pálpebras aos brilhos de Amon e Aton. Ilusão atômica, pó-de-estrelas. A Barca corre dos papões de luz: buracos negros, trançados entre os átomos sinfônicos. Devastada a tradição, morrem as gigantes do deserto. Túmulos de história, não de homens. Mausoléus genéticos do mundo.

Gandhi é um sonho inatingível. A Guerra, a personalidade ilógica do homem.

Maiakovsky revoluciona! Akhmátova grita! Fernando Pessoa delira sabedoria... A Barca transpõe limites irreconhecíveis. Jackson Pollock dança Duncan em sua arte e o índio Dom Juan tem mais vida do que os vivos.

Elvis Presley e George Balanchine escandalizam os tolos.

A Besta segura a tocha.

E a Barca desliza...

Imita a eternidade em versos irrecuperáveis.

O Homem se virtualiza , não com a virtude, mas com a internet.

A natureza agoniza. O homem emburrece cada vez mais .

O Templo dos Deuses já morreu...

O Templo dos Homens está morrendo...

Pergunto: O que é a Barca?

Tempo.

Abarca o tempo...

Pergunto: Quem está na Barca?


(Autor: Lara J. Lazo - 11/12/07)

BAILE DE MÁSCARAS







Veneza, século XVIII. Aquele aguaceiro deslumbrante. Preciosidades arquitetônicas. Carnaval. Coladas às faces, máscaras de ourivesaria. Uma beleza. Em slow motion o cortejo feliniano cruza pontes e acena a sensuais gondoleiros de camisetas azul e brancas. O sol se põe ao fundo da cena italiana.
Espanta Barata, interior de São Paulo. Brasil, século XXI. Vinte e um? Desculpe o equívoco leitor amigo. Eu quis dizer século XII, com todo ar de medievalismo. Um charme a mais . Pois é, em Espanta Barata o Carnaval também dá andamento a suas alegorias patéticas. Ah, que deleite observar a movimentação das libélulas deslumbradas, dos Ogros decaídos, papagaios, periquitos, cágados e burros chucros na dança pelo “poder” nas próximas eleições. Repetem-se máscaras e fantasias. Tudo por dinheiro. “O povo? Que povo? Este “ pessoalzinho de merda que não tem onde cair morto?” – dizem os arquitetos de estratégias podres para estabelecer administrações igualmente podres, viciadas, falidas e anacrônicas.
Se você quer assistir a estas disputas o conselho é: fique na arquibancada. Sem pagar, é claro, porque o espetáculo é deprimente e não vale um tostão furado. Só vale pra gente refletir sobre o ridículo, o mal acabado, o palhaço, o boçal, o circo e a inquisição.
Em Espanta Barata, o tempo parou. Nada muda por aquelas bandas desde que o Big Bang se deu conta de si. E nós, os que por aqui humildemente observamos, nós os que temos atividade cerebral consciente, os que trabalhamos realmente pelo bem comum, nós os efêmeros e passageiros, nos tranqüilizamos . Manobras apodrecidas são para os sem capacidade de articulações inteligentes.
A gente fica assim, espiando de longe, ao largo, vendo as lagartas a devorar os próprios rabos(e os rabos dos outros). É uma jogatina sem igual, um alisa daqui, trucida dali, nem Sherazade conseguiria ser tão criativa em suas mil e uma noites. Personagens grotescos que rezam em benefício próprio pela cartilha da grana fácil e da pose embonecada.
O mais interessante de contemplar este processo é prestar atenção nas idéias brilhantes dos envolvidos, como por exemplo mandar uma carta cumprimentando o dono da quitanda porque ele colocou um cartaz na porta: “NÃO PONHA OLHO GORDO NO CHEIRO VERDE” . Ou então presenciar a instalação de uma comissão que vai averiguar quantas joaninhas tem pra cada pulgão nos pés de couve. Isso é de uma relevância tão fundamental que é de deixar a gente sem fala. Aliás, pelo resto da vida.
A nós, os humildinhos, os cientes de sua pobre condição humana esmagada sob o peso de milhões de vias lácteas, a nós realmente resta um olhar embevecido de compaixão a esta escória politiqueira desalinhada e vazias e os versos de Quintana: “estes que aí estão a atravancar o meu caminho, eles passarão...eu passarinho.”


Maria Fernanda

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

PEGA LEVE, IRMÃO!!!


IRMÃOS, estamos nos finais dos tempos, na beira do abismo... Tudo finda:

finda-a moralidade e finda-a ética;

finda-o recato e finda-o cinto-de-castidade;

finda-o saião, Pindamonhangaba (opssss)

finda-o-pó-de-café, finda a água-benta

finda-a polenta e finda-a calça de tergal do secretário;

findam-o fio-dental e o papel higiênico.


Já-que está tudo uma M_E_R_D_A (No blog não se pode dizer certas palavras, irmãos, então soletremos pausadamente), oremos:


- pela cesta-básica, que o amásio da cunhada do compadre do seu vizinho recebeu (um pacote de bolacha Marta; um suco Morto, mas não te Mato; um pirulito de Zoião e uma lata de Corumbá em conserva, com picles de salsichas emboioladas, quer dizer, embaladas a vá-cú-ooo)


JACA-GUEI


- pela visão político-ecológica, que fez brotar bolor verdinho e ácaros bem nutridinhos numa vasta coleção de livros públicos. A essa sumidade, responsável por feitos de tal magnitude, de causar inveja a qualquer tsunami:


JACA-GUEI


-por todos (-as) os que se submetem ao estrelismo, jaquismo, bichismo, burrismo, machismo, cultismo, exibicionismo, achismo e pseudo-perfeccionismo, irmãos...:


JACA-GUEI


Cantemos:


Louva e ajoelha-te

Põe-te a carregar

Os Fardus du senhor

SALVE

Como pesa a Jaca "Santa",

Que assenta-se pesada-mente,

No trono eterno da ociosidade,

Da ogrosidade,

OH!

AVE, AVE, AVE, chester

Peru, glu, glu, glu, glu


SALVE OGUM!


(Autoras: Fernanda Laurito e Lara Jatkoske Lazo)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Tem que ter Karma


É preciso ter karma!

A gente vê que há gente preocupada com a vida alheia, em determinar os pecadores e os escolhidos do Divino...

Mas, não faz mal, não!

Foi no mercadinho, não foi? Levou uns trocados e comprou... uma jaca?!

Eu sei como é... Saiu caro, né?!

Karma! Não se desespere!

Comeu a jaca e a coisa esparramou e ficou entalada na garganta?

Karma, que ela desce... Bate duro no estômago e deixa a cuca meio tonta, mas é mole...

A jaca dura muito tempo e vai entalando, entalando, comprimindo a mente e melecando a alma. Em seguida, fica muito mole mesmo.

Efeitos colaterais de jaca não são fáceis, mas para tudo há cura! O Olho da noite tudo vê; o Olho do dia tudo revela.

Liga-se no Dharma e faça reza brava, que de pouquinho a jaca vai minguando.

Ação e reação, é assim mesmo!

A vida é música... Alegria... Vamos cantar...:

Nessa Jaca tem bicheira,

Não Bixa ni mim, não bixa ni mim, não bixa ni mim.

Nessa Jaca tem bicheira,

Esqueci di mim, esqueci di mim.

DESJACA (ou, se preferir: DESJAQUE) a sua vida e acorda!

Sorria!!!!!!!!!!!


DESJACA TUDO!!!!

(autor: Lara J. Lazo)



A HISTÓRIA REAL

Jaca é um pequeno município localizado no Valle de Aragón, na Província de Huesca, no Nordeste de Espanha. Está situada mesmo no centro dos Pirinéus, junto à fronteira francesa. É a capital da comarca da Jacetania.

A HISTÓRIA SURREAL

Jaca vive em um pequeno município localizado no vale do
Corumbatai, é fresca, peste e tacanha. Situa-se no centro dos fariseus, junto à lampeira fraqueza. É a “maioral” das jacas doidivanas.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Oração Contra Jaquice e Gosmas Semelhantes


Oh, deuses, de todos os olimpos!!!!!
Livrai-nos de tanta mentira...
De tanta injustiça e falsidade...
Livrai-nos da jaquice que nos consome a dignidade...
Livrai-nos dessa sina deprimente, inculta e caquética!

Oh, deuses, de todas as sortes!!!!
Salvai-nos, please, de passar dias futuros
Sob tão má e vazia influência...
Da perversão dos valores educacionais,
Da imposição religiosa e estulta,
Pela síndrome de santismo do pau-oco.

Oh, deuses, de todos as culturas!!!!!!
Libertai-nos da mansidão tola do povo alienado,
Das infundadas práticas religiosas em ambiente escolar,
Daqueles que se dizem tão religiosos
E cometem mais crimes do que os ateus.

Oh, deuses e deusas!!!!!!!!
Ouçai-nos agora
Nesta oração singela,
Que soa a um triste lamento!

Salvai-nos da sina jaquenta,
Livrai-nos desse melado gosmento,

Que assim seja!

SAI, JACA!

(Autor: Lara Jatkoske Lazo)

sábado, 1 de dezembro de 2007

O FRASCO DAS VINTE AGULHAS





Numa reentrância de Gaia jaz o pequeno frasco transparente. As agulhas, acondicionadas como chineses em seus distritos, ou como uma cultura de bactérias in vitro, respiram . Moléculas de oxigênio movimentam-se , espremidas umas contra as outras, banhando-as no recipiente: nano câmara hiperbárica.
Augusto dos Anjos se revira entre vermes, estupefato, diante das unidades léxicas que poderiam ter saído de seu putrefato cérebro. Estupefato, putrefato, as palavras traiçoeiramente arrogam a si mesmas a atenção do leitor, escandalosas como pavões multissilábicos à revelia do contexto.
Mas as agulhas...ah...as agulhas. Cientes de seu espetar inconsciente. Intuitivas porém capazes de cravar dogmas. Títeres anoréxicos com poder concentrado: do macrocosmo da reentrância de Gaia ao microcosmo dos meridianos. Travessia, aprofundamento, o coser dos paralelos, das multiplicidades.
Inicia-se a viagem.
O rosto é sempre o mesmo rosto. A pegada nem sempre é a mesma pegada. Pegadas voláteis, táteis, dissolvidas no éter. Que éter? O etéreo, aquele de algum hemisfério conturbado. A dança simbiótica do corpo na vertical, e o corpo na horizontal. As agulhas clamam, escapam, oxigenadas pelo condão da função. Dardos enfeitiçados na luz própria da intenção alquímica do verso.
Verso? Reverso? Dorso? Tarso? Metatarso? Meta linguagem, meta-se a cura através da aninhagem do toque no ponto. E pronto.
Penumbra.
Desdobramento.
Dormitam as conexões em suspensão...os órgãos acolhem o impulso, pulsa o pulso em alfa. Ansiedade básica; escorrem as impurezas pelo pé da mesa, da cama, no chão, anjo da morte que tinge a porta do recinto. Morte? Minto...Sorte: serpente do labirinto.
Estado de semi consciência, passeiam escaravelhos espantando os maus espíritos entalhados nas paredes frias, impessoais. Quantos gemidos, alguns ais, a intimidade encapsulada em containers assepticos, insípidos, inodoros e incolores.
Entra o xamã.
Aperta o play, finda-se a pausa. O fluxo retoma seu atávico curso, moléculas , átomos, esferas, tudo volta à dança primeira . Uma nova cena recomeçará, esforço sobre humano , insano, multidimensional. Editada pelo cotidiano:

cada dia uma viagem astral.


Maria Fernanda Laurito
Julho/2007