segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

BAILE DE MÁSCARAS







Veneza, século XVIII. Aquele aguaceiro deslumbrante. Preciosidades arquitetônicas. Carnaval. Coladas às faces, máscaras de ourivesaria. Uma beleza. Em slow motion o cortejo feliniano cruza pontes e acena a sensuais gondoleiros de camisetas azul e brancas. O sol se põe ao fundo da cena italiana.
Espanta Barata, interior de São Paulo. Brasil, século XXI. Vinte e um? Desculpe o equívoco leitor amigo. Eu quis dizer século XII, com todo ar de medievalismo. Um charme a mais . Pois é, em Espanta Barata o Carnaval também dá andamento a suas alegorias patéticas. Ah, que deleite observar a movimentação das libélulas deslumbradas, dos Ogros decaídos, papagaios, periquitos, cágados e burros chucros na dança pelo “poder” nas próximas eleições. Repetem-se máscaras e fantasias. Tudo por dinheiro. “O povo? Que povo? Este “ pessoalzinho de merda que não tem onde cair morto?” – dizem os arquitetos de estratégias podres para estabelecer administrações igualmente podres, viciadas, falidas e anacrônicas.
Se você quer assistir a estas disputas o conselho é: fique na arquibancada. Sem pagar, é claro, porque o espetáculo é deprimente e não vale um tostão furado. Só vale pra gente refletir sobre o ridículo, o mal acabado, o palhaço, o boçal, o circo e a inquisição.
Em Espanta Barata, o tempo parou. Nada muda por aquelas bandas desde que o Big Bang se deu conta de si. E nós, os que por aqui humildemente observamos, nós os que temos atividade cerebral consciente, os que trabalhamos realmente pelo bem comum, nós os efêmeros e passageiros, nos tranqüilizamos . Manobras apodrecidas são para os sem capacidade de articulações inteligentes.
A gente fica assim, espiando de longe, ao largo, vendo as lagartas a devorar os próprios rabos(e os rabos dos outros). É uma jogatina sem igual, um alisa daqui, trucida dali, nem Sherazade conseguiria ser tão criativa em suas mil e uma noites. Personagens grotescos que rezam em benefício próprio pela cartilha da grana fácil e da pose embonecada.
O mais interessante de contemplar este processo é prestar atenção nas idéias brilhantes dos envolvidos, como por exemplo mandar uma carta cumprimentando o dono da quitanda porque ele colocou um cartaz na porta: “NÃO PONHA OLHO GORDO NO CHEIRO VERDE” . Ou então presenciar a instalação de uma comissão que vai averiguar quantas joaninhas tem pra cada pulgão nos pés de couve. Isso é de uma relevância tão fundamental que é de deixar a gente sem fala. Aliás, pelo resto da vida.
A nós, os humildinhos, os cientes de sua pobre condição humana esmagada sob o peso de milhões de vias lácteas, a nós realmente resta um olhar embevecido de compaixão a esta escória politiqueira desalinhada e vazias e os versos de Quintana: “estes que aí estão a atravancar o meu caminho, eles passarão...eu passarinho.”


Maria Fernanda

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