terça-feira, 27 de novembro de 2007





A teoria da não existência de Deus fazia muito sentido. Ali meio difuso, holograma de mim mesmo, boiando naquela imensidão de éter, eu me deixara. Bendita sorte de encontrar-me pulverizado assim, um organismo indecifrável. Misturado, germinado, empoeirado, calcinado, deformado. Nem estrutura mais. Ah! Quão maravilhosa a sensação de, enfim, topar com a verdade escancarada: nunca houvera um criador . Eu apenas, criatura autopoiética. Bendita hora em que os arpejos de mamãe me levaram ao suicídio. Enfim a possibilidade de emaranhar-me em outras cordas. A musicas das esferas, tornando-se, por reverso , fonte de inspiração. Dívida de gratidão eterna, tão singela a maternidade. Tocante.
Ainda sob o efeito alucinógino da dissolução, vibrava. Inebriado ante a reconfortante ausência do Infundado, gozava. Profundamente comovido com a agudeza de espírito de mamãe, refletia... Poder ser pó, formular acordes sem estar de acordo. Fazer dobras na consciência , origami desorientado. O deleite de um tom desafinado!
Bastou um toque certeiro e o tempo retrocedeu. Tempo? Um lapso, um susto, elegia descompassada a algo que sou eu. Alegremente fui-me... e minha mãe nem gemeu.

Maria Fernanda (saiu no site da PIAUÍ - out/2007)

Como lemos



De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. maluco não???

terça-feira, 13 de novembro de 2007

JACATACAINDO

Jaca tá caindo
Jaca tá brotando
Jaca sem sentido
Jaca sai rolando

Jaca cai na beira
Jaca da aldeia
Jaca sem sentido
Jaca dá besteira.

Jacatacaldeia.
Jacatacafeira.
Jacatacomendo.
Jacatacadeira.
Jacatacou
Jacou!

Vou!
(Lara J. Lazo)

domingo, 11 de novembro de 2007

A TASCA DA MARIA MORCEGA





Tasca quer dizer botequim.

E era uma vez Maria Morcega. Vivia num lugar muito interessante: mistura de paraíso e fim do mundo. Maria Morcega tinha uma pequena taverna de aldeia, algo assim como um recanto, onde se abrigavam peregrinos para descansar após longas jornadas. A energia do lugar e suas peculiaridades, sons de passarinhos e cheiros de especiarias, acalmavam os viajantes.
Porém (e sempre há um porém) Maria Morcega tinha um traço de caráter peculiar: via o mundo de ponta cabeça. Portanto era de uma lucidez irretocável. Sob sua ótica, a lógica com a qual todos os seres estão acostumados simplesmente se invertia. O planeta da Maria era livre de todos os rótulos impostos desde sempre. Sua visão da vida representava um conceito novo de enxergar as coisas. Novo? Não era novo...o conceito era apenas desconhecido, “invisível” aos comuns mortais. Sempre estivera por aí e no mundo doido de agora, brotava dos confins da obscuridade e mostrava-se prenhe de possibilidades. Um conceito grávido de padrões possíveis, todinho à mostra. Em outras palavras: A Morcega entendia que nem tudo é como se vê, mas quase tudo pode ser como a mente deseja. A realidade é uma brincadeira de massinha, uma bobagem pra não se levar a sério com tanta ênfase e burrice como se observa por todo lado.

Maria Morcega sabia que existiam outros como ela e até já tivera a oportunidade de conhecer alguns: viandantes de passagem, que vindos de lugares distantes lhe diziam “neste século em que estamos, muitas coisas já perderam a razão de ser...o mundo manifesta-se mais veloz, mais complexo, e saber pensar sobre isto é a chave que abre muitos caminhos”... Estes “comparsas”, cúmplices nos mesmos universos paralelos, seres com olhos esbugalhados no meio da testa, formavam com Maria Morcega o clube dos que estão atacados de lucidez perplexa.

Já os comuns mortais, principalmente os aldeãos, por ironia os que enxergavam com dois olhos em plena luz do dia, encontravam-se irremediavelmente cegos. Também freqüentavam a Tasca falando sobre amenidades como “será que o Corintians vai ser rebaixado? “ ou “ se Deus quiser encontro minha alma gêmea” , observações tratadas como os mais profundos e significativos postulados filosóficos. Perdiam-se em divagações horizontais surfando na casca da serpente, enquanto no fundo da Tasca, as ondas eram vibracionais e o povo de um olho só, pendurado no batente das portas pra outras dimensões, despregava-se aos poucos e voava na crista do Dragão .

São existências paralelas a de Maria Morcega e seu bando e a dos comuns mortais e sua legião. Não há mais, nem menos. Alto nem baixo. Claro ou escuro. Melhor ou pior. Pólos apenas, magnetizados...um conduzindo a ilusão do que já ficou pra trás; o outro atônito diante das incertezas que tornam certo que tudo mudou de aspecto. Vetores da novidade milenar instalada. Assim seja.


Maria Fernanda Laurito

sábado, 3 de novembro de 2007

AVE, JACA!



A odisséia nervosa de uma jaca nervosa, num ogrosistema de captação de estagnação cultural.

Cuidado para a jaca não cair em sua cabeça!!!!



(Lara J. Lazo)


(Imagem retirada da revista Veja, 2007)

Cantemos a Jaca


A musa Jaca, no templo da poesia!

Pena os romanos não terem descoberto as qualidades da jaca... Virgílio, Ovídio, Horácio e todos os maravilhosos poetas clássicos da antigüidade. Hoje teríamos muito mais poesias sobre ela, tão belas como a que se encontra aqui ao lado.

Poetas modernos, se inspirem na Jaca e criem à vontade; se lambuzem no néctar dos ogros. Jaca é feita para ser cantada!

(Lara J. Lazo)

(imagem retirada da revista Veja, 2007)

A Odisséia Continua (ou contínua?)


A musa Jaca, no templo da música.

Se fosse nos tempos da Grécia Clássica, já existiriam tantas estátuas de jaca, nos museos de antigüidades...

Mas há lugares, garanto, onde jaca anda!


(Lara J. Lazo)


(retirado da revista Veja, 2007)

OS OGROS



No dicionário o significado está: “bicho-papão; ente fantástico”.
À primeira vista achei a explicação muito simplória, já que a idéia do bicho toma toda minha tela mental quando nele penso. Mas após estacionar um tiquinho no conceito, resolvi concordar com o Michaelis (... ninguém ainda me deu o Houaiss de presente, alô galera...).
Um ogro é realmente um ser fantástico e papa tudo que vê pela frente.
Se um ogro incomoda muita gente, muitos ogros incomodam muito mais. E existem ogros e ogras. Nem de longe se parecem com aquelas belezinhas do Shrek .
Estes sobre os quais falo infestam os arredores e têm as mais diversas formas: não são necessariamente gordos (embora também o sejam), nem necessariamente ateus. Uns tem mais cultura do que os outros, mas, invariavelmente, são seres unicelulares, portanto, com uma capacidade limitadíssima de elaborar qualquer coisa, seja um raciocínio de bom senso, seja uma atitude razoável, seja uma iniciativa louvável.
Segundo Elisabet Sahtouris em seu livro A Dança da Terra, “o mundo de criaturas unicelulares em uma gota de água é provavelmente semelhante ao que era há bilhões de anos, quando não havia criaturas maiores.” Deduzimos desta interessante fala da bióloga grega que seres unicelulares num minúsculo espaço são sempre os mesmos, reproduzem os mesmos comportamentos desde que o mundo é mundo.
Voltemos aos ogros: por analogia com os organismos unicelulares, ogros aglomerados numa pequena aldeia fictícia, por exemplo, conseguem mantê-la na idade paleolítica: descoberta do fogo e ferramentas de pedra lascada. É de lascar!
Para conseguir sobreviver, logicamente, um ogro ou ogra com esta estrutura mental precisa se juntar a outros. E é exatamente o que se observa nas povoações rústicas humanóides dos contos de fadas e demônios: hordas de 10 ou 12, no máximo 24 (!) papões papando nosso dinheiro, nosso espaço, nossos desejos de evoluir, nossa educação e nossa cultura. Seres fantásticos(no pior sentido do termo) que fazem a festa sozinhos e se lambuzam com os restos mortais dos inocentes úteis.
Todo mundo já viu um ogro soltando rojão e correndo atrás da vareta. Como já vimos os bichos encabeçando benevolências ao pobre povo (um sorvetinho aqui, um band aid ali), enquanto enchem os bolsos. Também já presenciamos ogros beatos que do alto, bem alto de suas podres convicções arrotam preces igualmente podres em direção aos incautos. E o que falar de ogrinhos arrogantes em cima de muros políticos ou balançando de acordo com o vendaval eleitoreiro, armando arapucas escondidas por detrás de favos de mel???
Será que merecemos?
Quem nunca prestou atenção nos ogros, de uma espiada em volta...Depois me escreva dizendo se não tenho razão. Aqui, do alto do meu castelo, observo sem ograr e sem perder a lucidez; só a cultura, o estudo e o conhecimento podem nos imunizar contra essa raça...mas tenho pena dos que são arrastados pela enxurrada.

Abaixo os ogros!!!!!!!!!