terça-feira, 27 de maio de 2008

CHÃO


DEITO NA CAMA DE CONCRETO...

TEUS PASSOS NO MEU PEITO

ESTÃO MAIS PERTO

DO VAGO PORTO DE PEDRA

EM QUE TE ESPREITO


JÁ NÃO SEI SE VELEJO A CÉU ABERTO

OU SE MERGULHO NA ESPERANÇA

EM QUE ME DEITO.
Maria Fernanda Laurito

segunda-feira, 19 de maio de 2008

CAIU UMA JACA

Uma jaca caiu em minha cabeça,
mas isso não tem importância,
porque a inteligência só anda a cavalo.

DECIFRE OU CALE-SE!!!!!!!!!!

(Lara J. L)

sexta-feira, 25 de abril de 2008

SANTÍSSIMA TRINDADE


“Escutai!, se as estrelas acendem é por que alguém precisa delas?”

São três. E a lua por testemunha. Linhagem de tempos ancestrais, revelada pelo clarão oblíquo e fecundo. Irmãs nas sutilezas, servas das brumas, mestras nas artes da criação.
A noite escolhida a sua revelia ,manifesta-se. Encontram-se nos interstícios de dois raios de luar. Como três reis magos, magas, levam nas mãos quentes e perfumadas um anel de serpente, a imagem da virgem e versos de Maiakóvisky.
Despem-se. Na fonte, meio corpo imerso em água cristalina, mãos espalmadas de encontro ao firmamento, em oferenda, suspiram. Família sagrada fecundante. Emoções à flor da pele sob o toque lascivo do silêncio que fala.


(Maria Fernanda Laurito e Lara Jatkoske Lazo- leia na íntegra no livro Emoções em Família - foto de lançamento- Livraria Cultura)

segunda-feira, 24 de março de 2008

O Que?

O que acontecerá, quando todo o negro do universo for preenchido de luz? O universo será tão branco, tão brilhante, que encolherá?!

Esse pensamento saiu na lágrima de um filósofo, na feliz curiosidade de um astrônomo, na poética simplicidade de um estudante e na sensível melancolia de um poeta!


Escatologia do universo!


(Texto: Lara J. Lazo)


ANÁGUAS DE MARÇO



Por debaixo da cascata zodiacal, como movimentos sinuosos da dança dos dervixes, não há membros. Então, o que é que a baiana tem??? Vatapá os seus olhos irmão e a bôca amarrada de visgo de jaca murcha. Os tempos são outros...Marte revela-se por trás do transparente tecido, rasgando as vísceras e as rendas do bicho papão que não papa mais. O bicho papão virou bicho pidão. A padronagem mental fru-fru rosa choque do grupo de "mumanos " , nestes tempos que correm, anda cambaleante. Quem tem não quer ter, quem é não quer ser. E ninguém é nada de nada. Anágua engomada, que disfarça a forma velada do não membro. Faliu o conceito de estar. Ficou a proposta de ser.

Maria Fernanda L. e Lara J. L.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

ZEITGEIST (O espírito da época)


Estou lendo um livro, quase acabando e adorando, pra usar uma palavra adequada. Chama-se DEUS, UM DELÍRIO, do Richard Dawkins. Eu já tinha lido há décadas O GENE EGOÍSTA. E gostado.

Somos uma miscelânia incompreensível, uma experiência do absurdo. Há zilhões de teorias sobre nossos inner sides e out sides, de tudo quanto é jeito modelito e esfera. Teóricos, estudiosos, cientistas, religiosos e leigos metidos a besta vomitam lava incndescente sobre: - quem somos nós? Quem sou eu? (...pra ter direitos exclusivos sobre ele...) o que nos espera? O que isso, aquilo, aquilo outro????? Álvaro/Pessoa, pelamor, cadê aquele poema em linha reta??????... “Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?”

Fala-se o que se quer. Escreve-se idem, e eis-me aqui pra provar isso. Eu volto lá em cima, no livro: nós humanos já somos por demais folgados, espaçosos nas idéias, atropelamos a possibilidade dos outros, ficamos dando receita, subimos no pico do Aconcágua letral (como diria Manoel de Barros), pra lá de cima ficar dando lição de moral , e ainda por cima acolhemos religiões e um deus , como diz Richard, “ ciumento, controlador, mesquinho, genocida, misógino, homofóbico, infanticida, filicida, racista, megalomaníaco, sadomasoquista e malévolo?” Me poupe como diria Vânia. Allons enfants, o jogo é jogado, a gente joga o jogo, porém, dá pra ser feliz sem nada disso.

Estou lendo Deus um Delírio. E estou adorando.

Maria Fernanda

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

DELÍRIO DE HISTÓRIA

Pegamos o carro e voamos para uma praia deserta e incerta num local maravilhoso. Praia deserta de lobos e repleta de silêncio gostoso e rico. Arrancamos os sapatos e corremos as soltas, sem “lenço, sem documento”. A tarde exigia concentração... Nuvens brandas pairavam cismadas. Caímos na água, sem preocupação com hora e obrigações. A única obrigação era simplesmente esquecer do mundo, esquecer de si .

As ondas iniciaram um diálogo gentil. Quando nos demos conta da conversa, vimos-nos sobre a concha de Afrodite, num aquário literário. O sol queimava as idéias, fluíam versos clássicos. Num delírio vendaval, redemoinho escancarou Atlântida, o sonho perdido de Platão. Em túnicas de catassol, visões navegantes, daquele povo imerso na escuridão da história, festejavam a ilusão dos vivos. Permanecíamos na concha sob os olhos de Netuno e seu tridente. O filósofo sonhador o seguia. Sentimo-nos como simulacros de um passado insólito. Havia peixes de todas as formas e cores beijando ou rasgando as túnicas. Nossa, de repente a concha se choca com a estátua de Cleópatra!!!! O que estaria fazendo a lembrança da rainha poderosa imersa nestas águas tão distantes de Alkhemit? Tornara-se ela a rainha do mar? Salue, Júlio César! Agora és marinheiro? Suas sandálias também estarão por aí, calçando histórias no tempo? Após o solavanco da batida, encontramos, agitada, no remelexo das águas, a lâmpada de Aladim. Um peixe contou-nos que, inicialmente, a lâmpada pertenceu a Gilgamech, o primeiro construtor da Arca. Noé o plagiou... ou tomou a sua barca? Pegamos a lâmpada e a esfregamos. Tirando a tampa, encontramos um poema de Fernando Pessoa, O Último Sortilégio. Redemoinhos surgiram fervorosos... Vapores vulcânicos abriram alas na imensidão aquática. Atlântida ficou em polvorosa. Túnicas nervosas corriam sem salvação. Tempestade de H2O... Sal nos olhos. O Sortilégio estava concluído. Atlândida foi sumindo, calando-se num burburinho de bolhas de água espalhafatosas. O círculo mágico fora rompido. Estarrecidos, víamos a história fugir de nossas vistas. A concha da deusa se quebrou e caímos num poço sem fim... Náusea das alturas... Ishtar deu um grito brilhante! Babel despencou!

Caímos do carro solar e acordamos, numa parede, na postura hieroglífica na cena de Nefertiti com Amenhotep IV sob os raios de Aton.

Fecha-se o livro.

Cala-se a história.

Morrem os mundos.

Agora, é com Shiva!

(Texto: Lara J Lazo)

UAI NO DNA



Eu nem sei direito o que eu quero dizer mas foi um dia incrível na pedra. Melhor, dentro do riozinho forrado de pedras nas pedras de São Tomé. É possível ficar em transe em meio ao trânsito. As vozes vinham e iam, ao longe um violão, uma mudinha de samambaia e sombras e sol. Havia harmonia. Num canto, no poço, a evangelização light da conversa civilizada, amena...a um palmo dali, diria alguém - a dois passos do paraíso -, rapeizes “queimando o rato” na fala dos mineiros de Claudio. Na mais santa mineira paz. Hipocrisia? Blindagem moral? Faz de conta que não to te vendo? Nada disso. Apenas o shangri-lá, aquilo que se espera, o respeito no peito, o acolhimento, o entendimento de que somos muitos, vivemos de mil maneiras, gostamos de inúmeras coisas, temos infinitas alternativas. A pinga que tu gosta pode se chamar segrêdo, azulão, jesus tá chamando...pode ter docê, bala, mato, vísque, o que é que muda? A pegada pode ser outra mas a vontade é a mesma: a gente tá comungando. Estamos no mesmo rio, a nascente é a mesma. Quem é que disse que tem de ser diferente?


Maria Fernanda