sábado, 26 de janeiro de 2013

JACA-ÍDA

Após as eleições, no seio da Aldeia,
A alegria, deveras, subiu ao ar levemente...
A Jaca pérfida do trono ilusório tombou;
Viu que sua ignóbil sina, a vida revelara
E o povo, sob a luz da verdade consciente,
O seu digno voto a ele negara.
E onde enfiou a sua cara?

Mudou de cidade!
Que felicidade!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

(Lara)

domingo, 21 de agosto de 2011

Fim de Jaca?


Dois duendes pensando...
"Fim de Jaca por aqui."
"Pelo menos, por enquanto..."
"Aguardar, aguardar, aguardar..."

Texto e foto por Lara J. Lazo

Destino


Quando caminhamos estrada sem rumo, malgrado os pedregulhos nos digam SUMAM, mas permanecemos no caminho, sem destino certo e sem desvio previsto, o sol espreitando à beira mato, num sopro contínuo de um vento perdido, sentimos que o destino é o ato contínuo de seguir, seja por que caminho ir, apenas seguir..., vislumbrar uma distância que há de vir, sabe-se lá até quando, porém persistir... Eis o Verbo, nome do Destino!

Texto: Lara J. LAzo
Foto: Jatkoske

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Clathrus Ruber X Jaca



É quase Natal. Agora são 23:10 h. A reflexão toma meu ser e o meu tempo. Como enviar mensagens de Natal, quando se está encafifada?
O que aconteceu foi o seguinte...
Ontem, em pleno Estado de São Paulo, no Brasil, deparei-me com um Clathrus Ruber numa estradinha de terra. Esse musgo/fungo natural lá da Europa, se é que não estou enganada, estava ali, bem na beira da estrada, parasitando restos de madeira, folhagens e bambus podres. Credo ,estava repleto de moscas, como é natural a esta estranha espécie. Hoje, um novo "ovinho" já era visível.
O que estava fazendo aqui?... Não sei. Só sei que me encafifou.
Achei o "bichinho" nojento, sem falar no cheirinho de carne podre que emana.

Voltando ao tema deste blogger, a Jaca , continuemos...

Entre Jaca e Clathrus Ruber há algo em comum: além do cheiro forte, podem ser comidos.rsrsrs
O problema da Jaca é que todo mundo come, até quem não a quer engolir. Já, o segundo, são apenas assassinos psicopatas que vivem sós nas montanhas lá do outro lado do mundo, que comem. Isso dizem alguns criminalistas...

Tem louco pra tudo né?!
Os leitores desse blogger sabem a minha preferência, por pior que ela pareça. E você qual prefere?

(Texto e fotos: Lara Jatkoske Lazo)

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Momento Poeticonético

Manhã... A caneta pende num canto qualquer da sala, para enfeitar o ambiente; não diria enfeitar propriamente dito, mas... dar um toque. A internet já está conectada, enquanto o lindo sol desponta em sua tela de cristal. As névoas do fim da noite se despedem no fundo da área de trabalho. Um show pirotécnico de fótons ágeis!!! Um congestionamento de informações instantâneas que não se entendem. Sento-me diante do mundo e penso... Para aonde irei hoje? E um clique frenético, sei lá com qual dos dedos - é tão rápido que não é mister pensar nisso - deixa-me aqui e acolá. Essa sensação de aqui estar e ir simultaneamente, simulacro do processo mental imaginário, é essencial; tem-se o efeito colateral de ponte fictícia entre o real daqui e o real de lá. Avistam-se mares, montanhas, cidades... Tudo lá embaixo... Uma pausa para o café, enquanto a janela da sala ainda nem foi aberta. E assim a virtualidade do dia corre... As horas - essas são reais? - passam nem depressa e nem devagar. Mais um café.
Entardecer... A caneta pende num canto qualquer da sala. O sol se põe na tela mágica e o feiticeiro, o Homem moderno, continua horas a fio em seu próprio universo paralelo.
Lá fora, as estrelas brilham para quem?

(Texto: Lara Jatkoske Lazo)

terça-feira, 27 de maio de 2008

CHÃO


DEITO NA CAMA DE CONCRETO...

TEUS PASSOS NO MEU PEITO

ESTÃO MAIS PERTO

DO VAGO PORTO DE PEDRA

EM QUE TE ESPREITO


JÁ NÃO SEI SE VELEJO A CÉU ABERTO

OU SE MERGULHO NA ESPERANÇA

EM QUE ME DEITO.
Maria Fernanda Laurito

segunda-feira, 19 de maio de 2008

CAIU UMA JACA

Uma jaca caiu em minha cabeça,
mas isso não tem importância,
porque a inteligência só anda a cavalo.

DECIFRE OU CALE-SE!!!!!!!!!!

(Lara J. L)

sexta-feira, 25 de abril de 2008

SANTÍSSIMA TRINDADE


“Escutai!, se as estrelas acendem é por que alguém precisa delas?”

São três. E a lua por testemunha. Linhagem de tempos ancestrais, revelada pelo clarão oblíquo e fecundo. Irmãs nas sutilezas, servas das brumas, mestras nas artes da criação.
A noite escolhida a sua revelia ,manifesta-se. Encontram-se nos interstícios de dois raios de luar. Como três reis magos, magas, levam nas mãos quentes e perfumadas um anel de serpente, a imagem da virgem e versos de Maiakóvisky.
Despem-se. Na fonte, meio corpo imerso em água cristalina, mãos espalmadas de encontro ao firmamento, em oferenda, suspiram. Família sagrada fecundante. Emoções à flor da pele sob o toque lascivo do silêncio que fala.


(Maria Fernanda Laurito e Lara Jatkoske Lazo- leia na íntegra no livro Emoções em Família - foto de lançamento- Livraria Cultura)

segunda-feira, 24 de março de 2008

O Que?

O que acontecerá, quando todo o negro do universo for preenchido de luz? O universo será tão branco, tão brilhante, que encolherá?!

Esse pensamento saiu na lágrima de um filósofo, na feliz curiosidade de um astrônomo, na poética simplicidade de um estudante e na sensível melancolia de um poeta!


Escatologia do universo!


(Texto: Lara J. Lazo)


ANÁGUAS DE MARÇO



Por debaixo da cascata zodiacal, como movimentos sinuosos da dança dos dervixes, não há membros. Então, o que é que a baiana tem??? Vatapá os seus olhos irmão e a bôca amarrada de visgo de jaca murcha. Os tempos são outros...Marte revela-se por trás do transparente tecido, rasgando as vísceras e as rendas do bicho papão que não papa mais. O bicho papão virou bicho pidão. A padronagem mental fru-fru rosa choque do grupo de "mumanos " , nestes tempos que correm, anda cambaleante. Quem tem não quer ter, quem é não quer ser. E ninguém é nada de nada. Anágua engomada, que disfarça a forma velada do não membro. Faliu o conceito de estar. Ficou a proposta de ser.

Maria Fernanda L. e Lara J. L.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

ZEITGEIST (O espírito da época)


Estou lendo um livro, quase acabando e adorando, pra usar uma palavra adequada. Chama-se DEUS, UM DELÍRIO, do Richard Dawkins. Eu já tinha lido há décadas O GENE EGOÍSTA. E gostado.

Somos uma miscelânia incompreensível, uma experiência do absurdo. Há zilhões de teorias sobre nossos inner sides e out sides, de tudo quanto é jeito modelito e esfera. Teóricos, estudiosos, cientistas, religiosos e leigos metidos a besta vomitam lava incndescente sobre: - quem somos nós? Quem sou eu? (...pra ter direitos exclusivos sobre ele...) o que nos espera? O que isso, aquilo, aquilo outro????? Álvaro/Pessoa, pelamor, cadê aquele poema em linha reta??????... “Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?”

Fala-se o que se quer. Escreve-se idem, e eis-me aqui pra provar isso. Eu volto lá em cima, no livro: nós humanos já somos por demais folgados, espaçosos nas idéias, atropelamos a possibilidade dos outros, ficamos dando receita, subimos no pico do Aconcágua letral (como diria Manoel de Barros), pra lá de cima ficar dando lição de moral , e ainda por cima acolhemos religiões e um deus , como diz Richard, “ ciumento, controlador, mesquinho, genocida, misógino, homofóbico, infanticida, filicida, racista, megalomaníaco, sadomasoquista e malévolo?” Me poupe como diria Vânia. Allons enfants, o jogo é jogado, a gente joga o jogo, porém, dá pra ser feliz sem nada disso.

Estou lendo Deus um Delírio. E estou adorando.

Maria Fernanda

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

DELÍRIO DE HISTÓRIA

Pegamos o carro e voamos para uma praia deserta e incerta num local maravilhoso. Praia deserta de lobos e repleta de silêncio gostoso e rico. Arrancamos os sapatos e corremos as soltas, sem “lenço, sem documento”. A tarde exigia concentração... Nuvens brandas pairavam cismadas. Caímos na água, sem preocupação com hora e obrigações. A única obrigação era simplesmente esquecer do mundo, esquecer de si .

As ondas iniciaram um diálogo gentil. Quando nos demos conta da conversa, vimos-nos sobre a concha de Afrodite, num aquário literário. O sol queimava as idéias, fluíam versos clássicos. Num delírio vendaval, redemoinho escancarou Atlântida, o sonho perdido de Platão. Em túnicas de catassol, visões navegantes, daquele povo imerso na escuridão da história, festejavam a ilusão dos vivos. Permanecíamos na concha sob os olhos de Netuno e seu tridente. O filósofo sonhador o seguia. Sentimo-nos como simulacros de um passado insólito. Havia peixes de todas as formas e cores beijando ou rasgando as túnicas. Nossa, de repente a concha se choca com a estátua de Cleópatra!!!! O que estaria fazendo a lembrança da rainha poderosa imersa nestas águas tão distantes de Alkhemit? Tornara-se ela a rainha do mar? Salue, Júlio César! Agora és marinheiro? Suas sandálias também estarão por aí, calçando histórias no tempo? Após o solavanco da batida, encontramos, agitada, no remelexo das águas, a lâmpada de Aladim. Um peixe contou-nos que, inicialmente, a lâmpada pertenceu a Gilgamech, o primeiro construtor da Arca. Noé o plagiou... ou tomou a sua barca? Pegamos a lâmpada e a esfregamos. Tirando a tampa, encontramos um poema de Fernando Pessoa, O Último Sortilégio. Redemoinhos surgiram fervorosos... Vapores vulcânicos abriram alas na imensidão aquática. Atlântida ficou em polvorosa. Túnicas nervosas corriam sem salvação. Tempestade de H2O... Sal nos olhos. O Sortilégio estava concluído. Atlândida foi sumindo, calando-se num burburinho de bolhas de água espalhafatosas. O círculo mágico fora rompido. Estarrecidos, víamos a história fugir de nossas vistas. A concha da deusa se quebrou e caímos num poço sem fim... Náusea das alturas... Ishtar deu um grito brilhante! Babel despencou!

Caímos do carro solar e acordamos, numa parede, na postura hieroglífica na cena de Nefertiti com Amenhotep IV sob os raios de Aton.

Fecha-se o livro.

Cala-se a história.

Morrem os mundos.

Agora, é com Shiva!

(Texto: Lara J Lazo)

UAI NO DNA



Eu nem sei direito o que eu quero dizer mas foi um dia incrível na pedra. Melhor, dentro do riozinho forrado de pedras nas pedras de São Tomé. É possível ficar em transe em meio ao trânsito. As vozes vinham e iam, ao longe um violão, uma mudinha de samambaia e sombras e sol. Havia harmonia. Num canto, no poço, a evangelização light da conversa civilizada, amena...a um palmo dali, diria alguém - a dois passos do paraíso -, rapeizes “queimando o rato” na fala dos mineiros de Claudio. Na mais santa mineira paz. Hipocrisia? Blindagem moral? Faz de conta que não to te vendo? Nada disso. Apenas o shangri-lá, aquilo que se espera, o respeito no peito, o acolhimento, o entendimento de que somos muitos, vivemos de mil maneiras, gostamos de inúmeras coisas, temos infinitas alternativas. A pinga que tu gosta pode se chamar segrêdo, azulão, jesus tá chamando...pode ter docê, bala, mato, vísque, o que é que muda? A pegada pode ser outra mas a vontade é a mesma: a gente tá comungando. Estamos no mesmo rio, a nascente é a mesma. Quem é que disse que tem de ser diferente?


Maria Fernanda

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

À CENSURA, AOS INSENSATOS, OGROS E CIA.


As palavras,

se nos foram podadas,

azar a quem as podou,

porque a poda só as fará florescer com maior vigor.

As palavras,

se foram cortadas pela raiz,

azar a quem as cortou,

porque assim entrarão para a história.

(Lara J Lazo)

FATO VERÍDICO E RIDÍCULO: UMA PÉROLA UNIVERSITÁRIA PARA RIR OU CHORAR.



Era um dia normal de aula... Saí apressada da sala, com um monte de atividades extra-classe para realizar. Inesperadamente, como uma fruta que despenca do pé na sua cabeça, um indivíduo conhecido parou-me no corredor. Não se tratava de um aluno. Com ar de soberba, o “sumo sacerdote do saber” passou a me cravar com perguntas idiotas. Com certeza não tinha nada de bom para fazer. As mais idiotas foram: - Por que você está disseminando Comunismo na faculdade? Qual a sua verdadeira intenção aqui?” Você faz parte de algum grupo mal intencionado infiltrado na universidade?

Até aí, não fazia idéia do que o indivíduo estava me acusando. Então, surpresa, perguntei: - O que foi que fiz?

Ele, revoltado, mas com um ar contido de superioridade, respondeu-me com outras interrogações: - Posso saber por quê você está traduzindo literatura russa para a revista bilíngüe de tradução, Modelo 19? Qual a sua verdadeira intenção nessa universidade? É fazer baderna comunista? - A minha surpresa foi então ainda maior! O que aquele maluco estava dizendo?! Eu não sabia se chorava, se ria até cair ou se escrevia uma crônica sobre as pérolas da democracia universitária. Ainda, quase perdi a noção temporal: “Será que estava na época da ditadura?” Perguntas tão estultas assombram e estonteiam!

Bem, só pude responder-lhe com outras questões: - Você sabe ler? Conhece a poesia de Anna Akhmátova? Sabe do que está falando? Você, pelo visto, não sabe ler coisa nehuma.

O indivíduo, com ar imbatível - e ridículo- , disse que não queria ver mais aquele tipo de “coisa” na revista de tradução de literatura e eu, claro, respondi que traduziria o que quisesse e que não seria ele e nem ninguém que iria me atrapalhar com tamanhas besteiras.

Só havia publicado a tradução de um poema de Anna Akhmátova, mais nada. Não havia intenção política, ideológica, ou qualquer outra! Era apenas a tradução de um excelente poema russo. E, onde estava a democracia? Que direito tinha aquele indivíduo tolo e soberbo de me esgotar a paciência com tamanho disparate? Ele era tão estulto, que não conseguiu nem compreender que a poetisa criticava o comunismo - seus poemas foram proibidos na Rússia comunista, se eu não me engano, de 1925 a 1952..

Esse tipo de visão não poderia jamais persistir, principalmente dentro de uma universidade. Eu não fazia idéia de que traduzir literatura russa ainda fosse sinônimo de disseminação comunista. Cretinos os que assim vêem as coisas! Retrógrados e ridículos!

Claro que não parei com as traduções e a revista ganhou outra poesia de Akhmátova!

Os tolos que se calem ou, pelo menos, não falem besteiras como essas!

(Texto: Lara J. Lazo)

(Foto: Anna Akhmátova /Aнна Ахмaтова )


domingo, 23 de dezembro de 2007

O murmúrio das calcinhas




Foi como tinha de ser. Tempo de paixão, tempo de maturação, tempo de infernização , tempo de revertério e tempo de transubstanciação. Pelo meio desses intermináveis ãos, todas as filigranas que entopem de dinheiro os bolsos dos analistas . Mas a gente nunca fez análise. A gente fazia diálise, porque nossos rins, depositários da energia vital, o prana cósmico, viviam dando tilt de tanto que a gente discutia. Discutia sobre o quê? As cretinices homéricas de todo sempre amém: religião, política, raça e família. Uma coisarada desproporcional ao tamanho de nossa mente, que só descansava quando nos voltávamos para as miticôndrias. Foi muito lenha queimada numa auto-combustão. Deu no que deu. Alguém apertou o pause. Péra aí, vamos repaginar, upgrade nas veias, pra até um dia, até talvez, até quem sabe, cruzarmos de novo. “Eu não sei em qual rua minha vida vai encontrar a sua”... once more.
Sobrou o murmúrio das calcinhas. “Por onde anda ele?” “ Cadê aquela mãozona que me maltratava?” “ Onde foi parar aquela voz me pedindo pra sumir?”
Sempre sobra encanto em algum canto. Talvez dentro de uma gaveta, insuspeita, matéria aparentemente inerte. Os físicos que se deleitem: dentre os multiversos, podem haver versos, ainda que tudo tenha se decomposto, mercúrio estilhaçado no chão... sempre haverá uma peça íntima tentando reunir os fragmentos, ingênua, bobinha. Ah...se a vida fosse apenas uma calcinha...


Maria Fernanda

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A FACE DE UM DEUS QUALQUER E O FUNDO DA CAVERNA




Quase tudo são sombras em Ogrolândia.

Saio para dar uma volta, parando aqui e acolá para recolher impressões. Esbarram em mim seres doentes do corpo, do espírito, do intelecto. Há um único verbo impresso no código milenar da língua: RECLAMAR. Reclama-se das mazelas físicas, das depressões, de filhos, maridos amigos, políticas, dos outros. E nas faces, - aquelas que seriam a imagem e semelhança desse deus judeu da guerra que a bíblia vende, - um ar sinistro de rancor e desilusão. Deus deve ser pessimista, revanchista e feio. E também reclama-se dele. Cobra-se. Acusa-se. Gente acostumada a freqüentar templos e que nada aprende, nada percebe do essencial da existência.
As pessoas movem-se na escuridão, como se vivessem no fundo da caverna. O único ruído vem do roçar das asas dos morcegos. O breu assume inúmeras formas: pode-se encontrar amigos de infância empinando o nariz, ou por acharem-se importantérrimos em suas funções aldeãs, ou por terem ficado amigos do Ogro Mór e seu séqüito. Pode-se receber uma resposta seca ao telefone ao se pedir uma informação, como se a Ogra- Li do outro lado pudesse vislumbrar o riso que provoca com seu estilo mastodonte e sem educação. O reino de Ogrolândia , está em metamorfose.

Há explicaçãoes pra isso?
Of course, dears! (Claro que sim). Orolândia jaz circundada por montes. Geograficamente, portanto, está na categoria dos vales. Já dizia um sábio: a montanha separa. O reino vive, pois, à parte do mundo. Como um Shan-gri-lá às avessas. Shan-gri-lá, porém, tinha uma vasta biblioteca, e seus moradores sabiam deleitar-se com a essência do espírito humano e suas criações. Entupiam os olhos de belezas e a mente de preciosidades. E o seu viver era uma elegância só. O requinte da existência profícua e abundante.
Ogrolândia faz o caminho inverso: a balbúrdia pirotécnica freqüente dos rojões, parece querer anunciar aos quatro ventos: aqui falta cultura, falta leitura, faltam discussões brilhantes, idéias reconfortantes, espaços de crescimento interior...mas temos baldes de crianças de recuperação na escola(catastrófico), temos pão cascudo, circo armado , galpão de recreação e outras cositas más, e cultos, é claro, pra todos os gostos, de todos os sabores. É claro que o perfil de Ogrolândia é perfeito para as grandes reflexões religiosas. Mais que perfeito.

Saí para dar uma volta. E voltei matutando. A percepção do alto do castelo, de dentro do mosteiro, se confirma quando se sai à rua. Mas quando a atmosfera está densa demais, há que se esperar o temporal. Quem sabe, depois da terra arrasada, da chuva que lava, do afogamento, sementes de mostarda brotem...na caverna de um deus sem face.


Maria Fernanda

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007


“Aconteceu um prodígio durante a minha temporada escolar; e aconteceu tão repentinamente que ainda considero tal hora como uma hora de revelação. Foi num bonito dia de amena primavera, quando o ar estava repleto de cantos de pássaros e as cegonhas recompunham seus belos ninhos nos telhados dos casebres de barro. As águas haviam descido e novos rebentos verdes emergiam do chão. Em todos os jardins que tinham recebido sementes plantas brotavam. Era um dia que convidava à aventura, e era impossível permanecermos sentados quietos na velha varanda raquítica de Oneh onde os tijolos se desmantelavam ao menor contato. Eu estava riscando um destes símbolos perpétuos – letras a serem cortadas em pedra e traçando ao lado deles os sinais abreviados usados para serem escritos em cima de papel – quando de repente certa palavra esquecida de Oneh, determinado fulgor estranho dentro de mim, falou e deu vida àqueles caracteres. Os desenhos se tornaram uma palavra, a palavra uma sílaba e a sílaba uma letra. Quando juntei desenhos a desenhos novas palavras irromperam – palavras vivas, inteiramente distintas dos símbolos. Qualquer rústico pode compreender um desenho; mais dois juntos só têm sentido para um literato. Creio que quem quer que haja aprendido a escrever e a ler sabe que é que estou querendo dizer. Para mim tal experiência se tornou mais fascinante do que arrebatar uma romã o cesto de um vendedor de frutas; mais doce to que uma tâmara seca; tão deliciosa como para o sedento um bom gole d água.”

Mika Waltari em O Egípcio

A BARCA


A Barca transpõe as margens da lagoa... A imensidão escorre nas gotas brilhantes de sol.

A Barca corre, patina, desliza na solidão cristalina. Cristalina, nos Olhos-Que-Tudo-Vêem, templo do olho já morreu, jazigo de ouro nasce e permanece. Osíris, flor molecular, abre os braços e carrega a Barca nas Brumas de Avalon. Aquela múmia, à beira da lagoa, toma o posto de Ishtar, a deusa estrela, que some na ilusão solar. “Devolva as oferendas, deusa, que seu povo já morreu!” O Templo do Olho fechou as pálpebras aos brilhos de Amon e Aton. Ilusão atômica, pó-de-estrelas. A Barca corre dos papões de luz: buracos negros, trançados entre os átomos sinfônicos. Devastada a tradição, morrem as gigantes do deserto. Túmulos de história, não de homens. Mausoléus genéticos do mundo.

Gandhi é um sonho inatingível. A Guerra, a personalidade ilógica do homem.

Maiakovsky revoluciona! Akhmátova grita! Fernando Pessoa delira sabedoria... A Barca transpõe limites irreconhecíveis. Jackson Pollock dança Duncan em sua arte e o índio Dom Juan tem mais vida do que os vivos.

Elvis Presley e George Balanchine escandalizam os tolos.

A Besta segura a tocha.

E a Barca desliza...

Imita a eternidade em versos irrecuperáveis.

O Homem se virtualiza , não com a virtude, mas com a internet.

A natureza agoniza. O homem emburrece cada vez mais .

O Templo dos Deuses já morreu...

O Templo dos Homens está morrendo...

Pergunto: O que é a Barca?

Tempo.

Abarca o tempo...

Pergunto: Quem está na Barca?


(Autor: Lara J. Lazo - 11/12/07)

BAILE DE MÁSCARAS







Veneza, século XVIII. Aquele aguaceiro deslumbrante. Preciosidades arquitetônicas. Carnaval. Coladas às faces, máscaras de ourivesaria. Uma beleza. Em slow motion o cortejo feliniano cruza pontes e acena a sensuais gondoleiros de camisetas azul e brancas. O sol se põe ao fundo da cena italiana.
Espanta Barata, interior de São Paulo. Brasil, século XXI. Vinte e um? Desculpe o equívoco leitor amigo. Eu quis dizer século XII, com todo ar de medievalismo. Um charme a mais . Pois é, em Espanta Barata o Carnaval também dá andamento a suas alegorias patéticas. Ah, que deleite observar a movimentação das libélulas deslumbradas, dos Ogros decaídos, papagaios, periquitos, cágados e burros chucros na dança pelo “poder” nas próximas eleições. Repetem-se máscaras e fantasias. Tudo por dinheiro. “O povo? Que povo? Este “ pessoalzinho de merda que não tem onde cair morto?” – dizem os arquitetos de estratégias podres para estabelecer administrações igualmente podres, viciadas, falidas e anacrônicas.
Se você quer assistir a estas disputas o conselho é: fique na arquibancada. Sem pagar, é claro, porque o espetáculo é deprimente e não vale um tostão furado. Só vale pra gente refletir sobre o ridículo, o mal acabado, o palhaço, o boçal, o circo e a inquisição.
Em Espanta Barata, o tempo parou. Nada muda por aquelas bandas desde que o Big Bang se deu conta de si. E nós, os que por aqui humildemente observamos, nós os que temos atividade cerebral consciente, os que trabalhamos realmente pelo bem comum, nós os efêmeros e passageiros, nos tranqüilizamos . Manobras apodrecidas são para os sem capacidade de articulações inteligentes.
A gente fica assim, espiando de longe, ao largo, vendo as lagartas a devorar os próprios rabos(e os rabos dos outros). É uma jogatina sem igual, um alisa daqui, trucida dali, nem Sherazade conseguiria ser tão criativa em suas mil e uma noites. Personagens grotescos que rezam em benefício próprio pela cartilha da grana fácil e da pose embonecada.
O mais interessante de contemplar este processo é prestar atenção nas idéias brilhantes dos envolvidos, como por exemplo mandar uma carta cumprimentando o dono da quitanda porque ele colocou um cartaz na porta: “NÃO PONHA OLHO GORDO NO CHEIRO VERDE” . Ou então presenciar a instalação de uma comissão que vai averiguar quantas joaninhas tem pra cada pulgão nos pés de couve. Isso é de uma relevância tão fundamental que é de deixar a gente sem fala. Aliás, pelo resto da vida.
A nós, os humildinhos, os cientes de sua pobre condição humana esmagada sob o peso de milhões de vias lácteas, a nós realmente resta um olhar embevecido de compaixão a esta escória politiqueira desalinhada e vazias e os versos de Quintana: “estes que aí estão a atravancar o meu caminho, eles passarão...eu passarinho.”


Maria Fernanda

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

PEGA LEVE, IRMÃO!!!


IRMÃOS, estamos nos finais dos tempos, na beira do abismo... Tudo finda:

finda-a moralidade e finda-a ética;

finda-o recato e finda-o cinto-de-castidade;

finda-o saião, Pindamonhangaba (opssss)

finda-o-pó-de-café, finda a água-benta

finda-a polenta e finda-a calça de tergal do secretário;

findam-o fio-dental e o papel higiênico.


Já-que está tudo uma M_E_R_D_A (No blog não se pode dizer certas palavras, irmãos, então soletremos pausadamente), oremos:


- pela cesta-básica, que o amásio da cunhada do compadre do seu vizinho recebeu (um pacote de bolacha Marta; um suco Morto, mas não te Mato; um pirulito de Zoião e uma lata de Corumbá em conserva, com picles de salsichas emboioladas, quer dizer, embaladas a vá-cú-ooo)


JACA-GUEI


- pela visão político-ecológica, que fez brotar bolor verdinho e ácaros bem nutridinhos numa vasta coleção de livros públicos. A essa sumidade, responsável por feitos de tal magnitude, de causar inveja a qualquer tsunami:


JACA-GUEI


-por todos (-as) os que se submetem ao estrelismo, jaquismo, bichismo, burrismo, machismo, cultismo, exibicionismo, achismo e pseudo-perfeccionismo, irmãos...:


JACA-GUEI


Cantemos:


Louva e ajoelha-te

Põe-te a carregar

Os Fardus du senhor

SALVE

Como pesa a Jaca "Santa",

Que assenta-se pesada-mente,

No trono eterno da ociosidade,

Da ogrosidade,

OH!

AVE, AVE, AVE, chester

Peru, glu, glu, glu, glu


SALVE OGUM!


(Autoras: Fernanda Laurito e Lara Jatkoske Lazo)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Tem que ter Karma


É preciso ter karma!

A gente vê que há gente preocupada com a vida alheia, em determinar os pecadores e os escolhidos do Divino...

Mas, não faz mal, não!

Foi no mercadinho, não foi? Levou uns trocados e comprou... uma jaca?!

Eu sei como é... Saiu caro, né?!

Karma! Não se desespere!

Comeu a jaca e a coisa esparramou e ficou entalada na garganta?

Karma, que ela desce... Bate duro no estômago e deixa a cuca meio tonta, mas é mole...

A jaca dura muito tempo e vai entalando, entalando, comprimindo a mente e melecando a alma. Em seguida, fica muito mole mesmo.

Efeitos colaterais de jaca não são fáceis, mas para tudo há cura! O Olho da noite tudo vê; o Olho do dia tudo revela.

Liga-se no Dharma e faça reza brava, que de pouquinho a jaca vai minguando.

Ação e reação, é assim mesmo!

A vida é música... Alegria... Vamos cantar...:

Nessa Jaca tem bicheira,

Não Bixa ni mim, não bixa ni mim, não bixa ni mim.

Nessa Jaca tem bicheira,

Esqueci di mim, esqueci di mim.

DESJACA (ou, se preferir: DESJAQUE) a sua vida e acorda!

Sorria!!!!!!!!!!!


DESJACA TUDO!!!!

(autor: Lara J. Lazo)



A HISTÓRIA REAL

Jaca é um pequeno município localizado no Valle de Aragón, na Província de Huesca, no Nordeste de Espanha. Está situada mesmo no centro dos Pirinéus, junto à fronteira francesa. É a capital da comarca da Jacetania.

A HISTÓRIA SURREAL

Jaca vive em um pequeno município localizado no vale do
Corumbatai, é fresca, peste e tacanha. Situa-se no centro dos fariseus, junto à lampeira fraqueza. É a “maioral” das jacas doidivanas.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Oração Contra Jaquice e Gosmas Semelhantes


Oh, deuses, de todos os olimpos!!!!!
Livrai-nos de tanta mentira...
De tanta injustiça e falsidade...
Livrai-nos da jaquice que nos consome a dignidade...
Livrai-nos dessa sina deprimente, inculta e caquética!

Oh, deuses, de todas as sortes!!!!
Salvai-nos, please, de passar dias futuros
Sob tão má e vazia influência...
Da perversão dos valores educacionais,
Da imposição religiosa e estulta,
Pela síndrome de santismo do pau-oco.

Oh, deuses, de todos as culturas!!!!!!
Libertai-nos da mansidão tola do povo alienado,
Das infundadas práticas religiosas em ambiente escolar,
Daqueles que se dizem tão religiosos
E cometem mais crimes do que os ateus.

Oh, deuses e deusas!!!!!!!!
Ouçai-nos agora
Nesta oração singela,
Que soa a um triste lamento!

Salvai-nos da sina jaquenta,
Livrai-nos desse melado gosmento,

Que assim seja!

SAI, JACA!

(Autor: Lara Jatkoske Lazo)

sábado, 1 de dezembro de 2007

O FRASCO DAS VINTE AGULHAS





Numa reentrância de Gaia jaz o pequeno frasco transparente. As agulhas, acondicionadas como chineses em seus distritos, ou como uma cultura de bactérias in vitro, respiram . Moléculas de oxigênio movimentam-se , espremidas umas contra as outras, banhando-as no recipiente: nano câmara hiperbárica.
Augusto dos Anjos se revira entre vermes, estupefato, diante das unidades léxicas que poderiam ter saído de seu putrefato cérebro. Estupefato, putrefato, as palavras traiçoeiramente arrogam a si mesmas a atenção do leitor, escandalosas como pavões multissilábicos à revelia do contexto.
Mas as agulhas...ah...as agulhas. Cientes de seu espetar inconsciente. Intuitivas porém capazes de cravar dogmas. Títeres anoréxicos com poder concentrado: do macrocosmo da reentrância de Gaia ao microcosmo dos meridianos. Travessia, aprofundamento, o coser dos paralelos, das multiplicidades.
Inicia-se a viagem.
O rosto é sempre o mesmo rosto. A pegada nem sempre é a mesma pegada. Pegadas voláteis, táteis, dissolvidas no éter. Que éter? O etéreo, aquele de algum hemisfério conturbado. A dança simbiótica do corpo na vertical, e o corpo na horizontal. As agulhas clamam, escapam, oxigenadas pelo condão da função. Dardos enfeitiçados na luz própria da intenção alquímica do verso.
Verso? Reverso? Dorso? Tarso? Metatarso? Meta linguagem, meta-se a cura através da aninhagem do toque no ponto. E pronto.
Penumbra.
Desdobramento.
Dormitam as conexões em suspensão...os órgãos acolhem o impulso, pulsa o pulso em alfa. Ansiedade básica; escorrem as impurezas pelo pé da mesa, da cama, no chão, anjo da morte que tinge a porta do recinto. Morte? Minto...Sorte: serpente do labirinto.
Estado de semi consciência, passeiam escaravelhos espantando os maus espíritos entalhados nas paredes frias, impessoais. Quantos gemidos, alguns ais, a intimidade encapsulada em containers assepticos, insípidos, inodoros e incolores.
Entra o xamã.
Aperta o play, finda-se a pausa. O fluxo retoma seu atávico curso, moléculas , átomos, esferas, tudo volta à dança primeira . Uma nova cena recomeçará, esforço sobre humano , insano, multidimensional. Editada pelo cotidiano:

cada dia uma viagem astral.


Maria Fernanda Laurito
Julho/2007

terça-feira, 27 de novembro de 2007





A teoria da não existência de Deus fazia muito sentido. Ali meio difuso, holograma de mim mesmo, boiando naquela imensidão de éter, eu me deixara. Bendita sorte de encontrar-me pulverizado assim, um organismo indecifrável. Misturado, germinado, empoeirado, calcinado, deformado. Nem estrutura mais. Ah! Quão maravilhosa a sensação de, enfim, topar com a verdade escancarada: nunca houvera um criador . Eu apenas, criatura autopoiética. Bendita hora em que os arpejos de mamãe me levaram ao suicídio. Enfim a possibilidade de emaranhar-me em outras cordas. A musicas das esferas, tornando-se, por reverso , fonte de inspiração. Dívida de gratidão eterna, tão singela a maternidade. Tocante.
Ainda sob o efeito alucinógino da dissolução, vibrava. Inebriado ante a reconfortante ausência do Infundado, gozava. Profundamente comovido com a agudeza de espírito de mamãe, refletia... Poder ser pó, formular acordes sem estar de acordo. Fazer dobras na consciência , origami desorientado. O deleite de um tom desafinado!
Bastou um toque certeiro e o tempo retrocedeu. Tempo? Um lapso, um susto, elegia descompassada a algo que sou eu. Alegremente fui-me... e minha mãe nem gemeu.

Maria Fernanda (saiu no site da PIAUÍ - out/2007)

Como lemos



De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. maluco não???

terça-feira, 13 de novembro de 2007

JACATACAINDO

Jaca tá caindo
Jaca tá brotando
Jaca sem sentido
Jaca sai rolando

Jaca cai na beira
Jaca da aldeia
Jaca sem sentido
Jaca dá besteira.

Jacatacaldeia.
Jacatacafeira.
Jacatacomendo.
Jacatacadeira.
Jacatacou
Jacou!

Vou!
(Lara J. Lazo)

domingo, 11 de novembro de 2007

A TASCA DA MARIA MORCEGA





Tasca quer dizer botequim.

E era uma vez Maria Morcega. Vivia num lugar muito interessante: mistura de paraíso e fim do mundo. Maria Morcega tinha uma pequena taverna de aldeia, algo assim como um recanto, onde se abrigavam peregrinos para descansar após longas jornadas. A energia do lugar e suas peculiaridades, sons de passarinhos e cheiros de especiarias, acalmavam os viajantes.
Porém (e sempre há um porém) Maria Morcega tinha um traço de caráter peculiar: via o mundo de ponta cabeça. Portanto era de uma lucidez irretocável. Sob sua ótica, a lógica com a qual todos os seres estão acostumados simplesmente se invertia. O planeta da Maria era livre de todos os rótulos impostos desde sempre. Sua visão da vida representava um conceito novo de enxergar as coisas. Novo? Não era novo...o conceito era apenas desconhecido, “invisível” aos comuns mortais. Sempre estivera por aí e no mundo doido de agora, brotava dos confins da obscuridade e mostrava-se prenhe de possibilidades. Um conceito grávido de padrões possíveis, todinho à mostra. Em outras palavras: A Morcega entendia que nem tudo é como se vê, mas quase tudo pode ser como a mente deseja. A realidade é uma brincadeira de massinha, uma bobagem pra não se levar a sério com tanta ênfase e burrice como se observa por todo lado.

Maria Morcega sabia que existiam outros como ela e até já tivera a oportunidade de conhecer alguns: viandantes de passagem, que vindos de lugares distantes lhe diziam “neste século em que estamos, muitas coisas já perderam a razão de ser...o mundo manifesta-se mais veloz, mais complexo, e saber pensar sobre isto é a chave que abre muitos caminhos”... Estes “comparsas”, cúmplices nos mesmos universos paralelos, seres com olhos esbugalhados no meio da testa, formavam com Maria Morcega o clube dos que estão atacados de lucidez perplexa.

Já os comuns mortais, principalmente os aldeãos, por ironia os que enxergavam com dois olhos em plena luz do dia, encontravam-se irremediavelmente cegos. Também freqüentavam a Tasca falando sobre amenidades como “será que o Corintians vai ser rebaixado? “ ou “ se Deus quiser encontro minha alma gêmea” , observações tratadas como os mais profundos e significativos postulados filosóficos. Perdiam-se em divagações horizontais surfando na casca da serpente, enquanto no fundo da Tasca, as ondas eram vibracionais e o povo de um olho só, pendurado no batente das portas pra outras dimensões, despregava-se aos poucos e voava na crista do Dragão .

São existências paralelas a de Maria Morcega e seu bando e a dos comuns mortais e sua legião. Não há mais, nem menos. Alto nem baixo. Claro ou escuro. Melhor ou pior. Pólos apenas, magnetizados...um conduzindo a ilusão do que já ficou pra trás; o outro atônito diante das incertezas que tornam certo que tudo mudou de aspecto. Vetores da novidade milenar instalada. Assim seja.


Maria Fernanda Laurito

sábado, 3 de novembro de 2007

AVE, JACA!



A odisséia nervosa de uma jaca nervosa, num ogrosistema de captação de estagnação cultural.

Cuidado para a jaca não cair em sua cabeça!!!!



(Lara J. Lazo)


(Imagem retirada da revista Veja, 2007)

Cantemos a Jaca


A musa Jaca, no templo da poesia!

Pena os romanos não terem descoberto as qualidades da jaca... Virgílio, Ovídio, Horácio e todos os maravilhosos poetas clássicos da antigüidade. Hoje teríamos muito mais poesias sobre ela, tão belas como a que se encontra aqui ao lado.

Poetas modernos, se inspirem na Jaca e criem à vontade; se lambuzem no néctar dos ogros. Jaca é feita para ser cantada!

(Lara J. Lazo)

(imagem retirada da revista Veja, 2007)

A Odisséia Continua (ou contínua?)


A musa Jaca, no templo da música.

Se fosse nos tempos da Grécia Clássica, já existiriam tantas estátuas de jaca, nos museos de antigüidades...

Mas há lugares, garanto, onde jaca anda!


(Lara J. Lazo)


(retirado da revista Veja, 2007)

OS OGROS



No dicionário o significado está: “bicho-papão; ente fantástico”.
À primeira vista achei a explicação muito simplória, já que a idéia do bicho toma toda minha tela mental quando nele penso. Mas após estacionar um tiquinho no conceito, resolvi concordar com o Michaelis (... ninguém ainda me deu o Houaiss de presente, alô galera...).
Um ogro é realmente um ser fantástico e papa tudo que vê pela frente.
Se um ogro incomoda muita gente, muitos ogros incomodam muito mais. E existem ogros e ogras. Nem de longe se parecem com aquelas belezinhas do Shrek .
Estes sobre os quais falo infestam os arredores e têm as mais diversas formas: não são necessariamente gordos (embora também o sejam), nem necessariamente ateus. Uns tem mais cultura do que os outros, mas, invariavelmente, são seres unicelulares, portanto, com uma capacidade limitadíssima de elaborar qualquer coisa, seja um raciocínio de bom senso, seja uma atitude razoável, seja uma iniciativa louvável.
Segundo Elisabet Sahtouris em seu livro A Dança da Terra, “o mundo de criaturas unicelulares em uma gota de água é provavelmente semelhante ao que era há bilhões de anos, quando não havia criaturas maiores.” Deduzimos desta interessante fala da bióloga grega que seres unicelulares num minúsculo espaço são sempre os mesmos, reproduzem os mesmos comportamentos desde que o mundo é mundo.
Voltemos aos ogros: por analogia com os organismos unicelulares, ogros aglomerados numa pequena aldeia fictícia, por exemplo, conseguem mantê-la na idade paleolítica: descoberta do fogo e ferramentas de pedra lascada. É de lascar!
Para conseguir sobreviver, logicamente, um ogro ou ogra com esta estrutura mental precisa se juntar a outros. E é exatamente o que se observa nas povoações rústicas humanóides dos contos de fadas e demônios: hordas de 10 ou 12, no máximo 24 (!) papões papando nosso dinheiro, nosso espaço, nossos desejos de evoluir, nossa educação e nossa cultura. Seres fantásticos(no pior sentido do termo) que fazem a festa sozinhos e se lambuzam com os restos mortais dos inocentes úteis.
Todo mundo já viu um ogro soltando rojão e correndo atrás da vareta. Como já vimos os bichos encabeçando benevolências ao pobre povo (um sorvetinho aqui, um band aid ali), enquanto enchem os bolsos. Também já presenciamos ogros beatos que do alto, bem alto de suas podres convicções arrotam preces igualmente podres em direção aos incautos. E o que falar de ogrinhos arrogantes em cima de muros políticos ou balançando de acordo com o vendaval eleitoreiro, armando arapucas escondidas por detrás de favos de mel???
Será que merecemos?
Quem nunca prestou atenção nos ogros, de uma espiada em volta...Depois me escreva dizendo se não tenho razão. Aqui, do alto do meu castelo, observo sem ograr e sem perder a lucidez; só a cultura, o estudo e o conhecimento podem nos imunizar contra essa raça...mas tenho pena dos que são arrastados pela enxurrada.

Abaixo os ogros!!!!!!!!!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Eru(eros)dição


SENINLE SIKISMEK ISTIYORUM.


BENI TUM GECE SIKMENI.


SENIN ILE SEHVET DOLU BIR GECE ISTIYORUM.


DUDAGINA PARMAGINLA ILE DOKUN ISTIYORUM.

AZUIS DA COR DO MAR



Eles estão espalhados pelos quatro cantos do mundo. Vem chegando há mais de dez anos. Estas crianças têm-se tornado reais e assombram os mais experientes com suas ações, palavras e idéias. Você nunca se surpreendeu com a atitude de alguma criancinha? São constituídos de outra energia vital e sentidos como a esperança do presente e uma ponte fundamental para o futuro. São pequenos seres que povoam nossos lares e escolas, muito mais evoluídos que nós e é com eles que devemos aprender a quebrar nossos padrões cristalizados de comportamento; nossos desejos mesquinhos de poder, nossas máscaras deformadas coladas ao rosto, vestimentas com prazo de validade vencido.
Os “azuis” frequentemente acham caminhos melhores que os nossos para resolver as coisas.São vitais neste mundo tão conturbado, porque conseguem através da forte intuição enxergar além das três dimensões. Estão aí para nos ensinar e muitas vezes são vistos como indisciplinados, rebeldes e anti-sociais. Mas são os seres que representam a única esperança real de revitalização das forças do bem neste universo irreal. São os que movem energias a favor da superação do desastre planetário e humano anunciado e já em curso.
A todos nós adultos, pretensos formadores de opiniões, pais, professores, cabe a lucidez mínima e a humildade de perceber com quem estamos lidando. Cabe a reflexão sobre este novo aspecto da existência materializada. Assim, quem sabe, possamos deixar de cometer verdadeiras barbaridades contra miúdos e adolescentes, taxando-os de desobedientes, incapazes, inúteis, ineficazes, infelizes. Numa sala de aula, certa feita, podia-se ler num cartaz pregado na parede: “Você não nasceu para voar”... Estas falas anacrônicas e medievais, desconectadas do sonho e da compreensão, rasas e estéreis por natureza, podem servir apenas para destruir nas entranhas da terra fértil, as sementes de uma outra humanidade, mais equânime e evoluída, azul da cor do mar.


Maria Fernanda Laurito

Piripaque no Navegador


Navegar é preciso?


Depende do fluxo das ondas, carregadas de fótons ou bichos marinhos , luz ou numerinhos, bonitões ou bonitinhos. Quem navega chega a parte alguma. Dá voltas e se perde na imensidão do imedido, nooesfera camaleão. Nós não somos nós, vocês não são vocês e ninguém é ninguém, tá todo mundo no além...ou no aquém? Mar? Mar, praia - sol, interface, surf, tela de proteção, Matrix tá caduco, vídeos criaturas sem tesão...ou com? Ponto com.

Turbulência, temporal, ponte virtual por onde atravessa ...Aqua pi pir , peixe- água, redemoinho numérico, tela quadrada, equação cerebral, sem vida orgânica. Isso é só uma vida mental. Fecundante, mutantes. Casulo genial? Buraco "negro", nicho anti-matéria, vórtice sugador que aloja espíritos. Não, não queremos...DESEJAMOS ARDENTEMENTE.

SOMOS DEUSES.


(Lara J. Lazo e Maria Fernanda Laurito)

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Decifre!

"Não te deixarei entrar na Sala, disse a maçaneta da Porta, a menos que me digas meu Nome oculto.
O-Olho-fonte-de-Vida-do-deus-Sebek-o-Senhor-de-Bakhau, eis teu Nome."

(Do Livro Dos Mortos Do Antigo Egito)

terça-feira, 18 de setembro de 2007


"From the Hebrews we receive, incidentally, it is true, considerable information about the powers of the Egyptian magician. Saint Stephen boasts that the great legislator Moses "was learned in all the wisdom "of the Egyptians , " and declares that he "was mighty" in words and in deeds, " and there are numerous features in the life of this remarkable man which shew that he was acquainted with many of the practices of Egyptian magic. The phrase "mighty in words" probably means that, like the goddess Isis, he was "strong of tongue" and uttered the words of power which he knew with correct pronunciation, and halted not in his speech, and was perfect both in giving the command and in saying the word. The turning of a serpent into what is apparently an inanimate, wooden stick, and the turning of the stick back into a writhing snake, are feats which have been performed in the East from the most ancient period; and the power to control and direct the movements of such venomous reptiles was one of the things of which the Egyptian was most proud, and in which he was most skilful, already in the time when the pyramids were being built."

(BUDGE, Wallis. EGYPTIAN MAGIC;P. 5)

COR UM BA , TÁ



NO GROTÃO AO REDOR DO OGRO GROTESCO GRAVITAM GREMILINS GRÁVIDOS DE GRUPOS QUE GRUNHEM COM GRAVIDADE GRANDES GERÚNDIOS GOSMENTOS GRIFADOS PELO GABARITO GELADO E DESGASTADO DA GESTAPO.


Corroído


Umbilical


Babacal


Tá mal.





Bate macumba ê-ê, bate macumba- ô-bá...vem renovar este lugar.

(Fer e Lara)

ANATOMIA DO ESCÂNDALO


Estão os dois sentados ao redor da mesa, numa tarde maravilhosa de verão, degustando patas de gafanhoto empanadas, divinamente seguidas por um magistral suco de jacamanga gelado, quando um deles comenta com ar tranquilo: - que bela plumagem daquele filhote de colibri de meia idade!

- Tá chapado de gafanhoto??Pergunta o primeiro estupefato, tirando um fiapo de jaca do dente ( pô, tá duro de sair esse negócio daqui...)

- Como assim? Indaga o segundo vendo cair por terra, em vôo livre, sua observação romantizada de fim de tarde ( que pôr-de-sol inspirador).

- Colibri é coisa de vi...úva e lembra a cor pink. Plumas então, nem se fala: rinite alérgica, coceira rítmica e sifilítica, e filhote é aquilo que a gente pega pelo cangote, diminutivo de quase nada. Em suma, sua frase é estrambótica, irritante e melancólica.

-Você re-clama, re-chamando a chatice em nome da mesmice em compota. Seu pedaço de marmota. Marmelada ensebada, passada com faca enferrujada, sobre uma pia velha da tia de seu amigo Raméla.

- Nossa...tô pasmo...nunca esperei de ti tal repertório assaz repulsivo.


Levanta-se o desafeto revoltado da mesa, ainda com uma perna de gafanhoto fugindo pelo canto da bôca, em meio à baba rançosa do caldo de jaca escorrendo, dá um soco na parede com ar de Wolverine, sentindo-se senhor da situação e, completamente descontrolado, grita em alta clave:


-Odeio o sol que alimenta esse colibri!
(Fernanda e Lara)

Poema de Sechi


que não sei
serei o que não sou




que na vida
nada muda,

mudo eu...

SILÊNCIO!

(dos livros "eu, josé, vejo coizas com z" e "Quase Silêncio")

terça-feira, 11 de setembro de 2007

TAO


"Há uma coisa formada confusamente,
Nascida antes do céu e da Terra.
Silenciosa e oca
Permanece só e não se altera,
Gira e não se fatiga.
É capaz de ser a mãe do mundo.
Não sei o seu nome.
Então nomeei-a de `O Caminho`.
Dei-lhe o nome substituto de `O Grande`.
Sendo grande , é, além disso, descrito como descendente,
Descendendo, é descrito como distante,
Sendo distante, é descrito como voltando.

(Lao Tsé, Tao-Te-Ching- 600 AC)

Poeminha do Contra

Todos estes que aí estão
atravancando o meu caminho,
eles passarão...
Eu passarinho!

(Mario Quintana)

DUAS CIDADÃS "CERTINHAS" NA RAVE



Professoras, escritoras... Vem cá! É possível tal desatino?
Num mega evento de música Rave, o Goaa Festival, incrustado nos morros de Analândia, fritando até as estrelas, com seus tentáculos de laser a cutucar o céu, duas aventureiras na música eletrônica nacional e internacional, podiam ser vistas curtindo a novidade de maneira muito zen. Contraditório isso de rave e estado zen? Nem pensar! Foi exótico estar naquela “praça esotérica” de alta tecnologia a la decoração oriental, no meio de um simples pasto. O rústico contendo o moderno de uma forma muito curiosa. Ovídio teria descrito tal cena, como o templo do deus indiano Ganesh, soprado de flautas de metal, por um pastor enlouquecido. A soma da música à decoração repleta de Flores-de-lótus, ao colorido e ao brilho harmonizados com o ritmo dos Djs de diversas nacionalidades, acabou por gerar um estado estranhamente zen! Que mundo era aquele? Bom, ruim?... Não sabemos, mas vivemos sensações estranhas e tranqüilas num mundo novo para nós. Faces humanas robotizadas, sem cor e sem sorriso gostoso... Djs coloridos, animados e febris. Quanta contradição harmoniosa. O público estava meio estonteado, um tanto sem vida, sem brilho nos olhos... Ou será foram ofuscados pelo brilho do telão, dos lasers, da fantástica iluminação de neon e dos retro-projetores?... Dá o que pensar!
Cá entre nós, até comida vegetariana, temperada pelos braços de Krishina e suas Gopis, encontramos nesse local mega estranho!
O que mais se pode dizer dum local assim, tão paradoxal?!
Orgia temporal e temática? Rave místico ou misticismo eletrônico? Chacras quebrados, atormentados ou ativados? Estado cósmico ou alucinado? Dialogismo maluco, num contexto supra-verbal? O que diria
Mikhail Bakhtin sobre essa linguagem polifonicamente estrambótica? Segundo esse mestre da lingüística: “Duas vozes são o mínimo de vida.”
O Goaa Festival pode ser resumido num diálogo principal entre as vozes zen e natureba da filosofia oriental, e o espírito eletrônico de um ritmo tribal estridente e artificial. O humano e o eletrônico unidos, numa comunhão temporal.

Nem Jung explica!

(Lara J. Lazo: 9 de Setembro de 2007)

O pior é quando a jaca transpõe a jaquice

(Fer)