terça-feira, 18 de setembro de 2007

ANATOMIA DO ESCÂNDALO


Estão os dois sentados ao redor da mesa, numa tarde maravilhosa de verão, degustando patas de gafanhoto empanadas, divinamente seguidas por um magistral suco de jacamanga gelado, quando um deles comenta com ar tranquilo: - que bela plumagem daquele filhote de colibri de meia idade!

- Tá chapado de gafanhoto??Pergunta o primeiro estupefato, tirando um fiapo de jaca do dente ( pô, tá duro de sair esse negócio daqui...)

- Como assim? Indaga o segundo vendo cair por terra, em vôo livre, sua observação romantizada de fim de tarde ( que pôr-de-sol inspirador).

- Colibri é coisa de vi...úva e lembra a cor pink. Plumas então, nem se fala: rinite alérgica, coceira rítmica e sifilítica, e filhote é aquilo que a gente pega pelo cangote, diminutivo de quase nada. Em suma, sua frase é estrambótica, irritante e melancólica.

-Você re-clama, re-chamando a chatice em nome da mesmice em compota. Seu pedaço de marmota. Marmelada ensebada, passada com faca enferrujada, sobre uma pia velha da tia de seu amigo Raméla.

- Nossa...tô pasmo...nunca esperei de ti tal repertório assaz repulsivo.


Levanta-se o desafeto revoltado da mesa, ainda com uma perna de gafanhoto fugindo pelo canto da bôca, em meio à baba rançosa do caldo de jaca escorrendo, dá um soco na parede com ar de Wolverine, sentindo-se senhor da situação e, completamente descontrolado, grita em alta clave:


-Odeio o sol que alimenta esse colibri!
(Fernanda e Lara)

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